Assassino de Marielle morava no mesmo condomínio que Bolsonaro

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Condomínio Vivendas da Barra, onde moravam Ronnie Lessa e Jair Bolsonaro

Ronnie Lessa, o assassino da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, mortos em 14 de março do ano passado, foi preso às 4h da manhã desta terça-feira (12/03), em sua casa, na Avenida Lúcio Costa, Barra da Tijuca, no condomínio de luxo Vivendas da Barra.

No mesmo condomínio está a casa de Jair Bolsonaro.

Não foi comprovada nenhuma ligação entre eles, exceto que são vizinhos.

Lessa, sargento reformado da PM, de acordo com a polícia, foi autor dos 13 tiros que mataram Marielle e Anderson.

O outro assassino, que dirigiu o carro durante o crime, Élcio Vieira de Queiroz, aparece com Bolsonaro em foto publicada por ele no Facebook.

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Élcio Queiroz foi expulso da PM em 2016, depois de preso, em 2011, na Operação Guilhotina, da Polícia Federal, que investigou o envolvimento de policiais militares com o tráfico de drogas e com as “milícias”.

Na terça-feira, Queiroz foi preso em sua casa, no Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio.

Os dois, apontam os policiais do Rio, são integrantes do Escritório do Crime, um bando de assassinos por encomenda das “milícias” do Rio.

Ronnie Lessa, além da casa no mesmo condomínio de Bolsonaro, é proprietário de uma mansão – e uma lancha – no condomínio Portogalo, em Angra dos Reis, onde Ayrton Senna tinha sua casa de praia.

Como sargento reformado da PM, Lessa ganha uma aposentadoria de R$ 7.463,86 (valor líquido, depois dos descontos).

Na busca feita pela polícia no condomínio Vivendas da Barra, foi apreendido um automóvel blindado importado, modelo FX-35 da marca Infiniti, do ano de 2011 – o preço desse modelo, no Brasil, sem blindagem, é em torno de R$ 160 mil.

Além disso, na varredura do terreno da casa de Lessa, com detectores de metais, foram achadas várias armas.

Em uma casa, também de Ronnie Lessa, no bairro do Méier, a Polícia Civil apreendeu um arsenal, composto por dezenas de fuzis desmontados, acondicionados em caixas.

Havia um homem no local, que disse conhecer Ronnie Lessa desde criança, mas que não sabia o que estava nas caixas: “Eu confiei nele. Acreditei nele. Foi criado com a gente, ele morava aqui do lado, desde pequeno. Ainda falou para mim: ‘Só não abre as caixas’”, disse o homem à polícia.

“Determinados casos, pela complexidade, não vão fechar rápido” disse o chefe da Divisão de Homicídios da Capital, delegado Giniton Lages, na entrevista coletiva que sucedeu as prisões de Lessa e Queiroz.

A próxima fase, disse o delegado, é descobrir o mandante do assassinato de Marielle, pois os membros do Escritório do Crime somente atuam quando pagos – e muito bem pagos.

Para descobrir os assassinos, “foi necessário se concentrar no que aconteceu antes do crime. Em 80% dos casos, os assassinatos são solucionados por meio de testemunhas – e isso não seria possível nesse caso”, frisou o delegado. “As câmeras [de rua], como estão posicionadas, não servem à investigação. As câmeras são voltadas para a contagem de veículos e trânsito”.

“Em momento nenhum [os assassinos] saíram do carro. Não saíram do veículo nem na hora do assassinato”, depois de esperar duas horas pelo carro que conduzia Marielle.

“O sigilo de 2.428 antenas foi quebrado para monitorar celulares na investigação do caso. Foram quebradas e analisadas mais de 33 mil linhas telefônicas – 318 linhas telefônicas foram interceptadas.

“Monitoramos 443 carros Cobalt da cor prata [o carro usado pelos assassinos]. Com os filtros de horário e local, chegamos a 126 carros. Todos esses proprietários de Cobalt foram visitados”.

Além disso, a polícia concentrou-se naqueles que poderiam ter perícia para cometer um crime desse tipo.

Assim, os policiais chegaram aos assassinos.

O planejamento do crime, segundo a polícia, levou três meses.

Porém, mesmo depois da polícia chegar à conclusão de que Ronnie Lessa e Élcio Queiroz eram os assassinos, não havia provas suficientes para prendê-los e condená-los.

Foi, então, realizado um levantamento “digital” que mostrou que Lessa usara seu computador para levantar os lugares frequentados por Marielle.

Além disso, os policiais vasculharam os arquivos acessados por Lessa, pelo celular, antes do crime.

Com isso, provaram que Lessa acompanhara a agenda da vereadora até momentos antes do assassinato.

CURRÍCULO

Ronnie Lessa, o principal assassino, veio do Exército para a Polícia Militar do Rio em 1992, quando foi para o 9º Batalhão da Polícia Militar, em Rocha Miranda.

Nessa unidade, seu comandante era o tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, depois condenado a 36 anos de cadeia como mandante do assassinato na juíza Patrícia Acioli.

A juíza, titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, foi executada com 21 tiros, na porta de sua casa, em Niterói. Ela havia decretado a prisão de 60 policiais que eram integrantes de “milícias”.

Depois do 9º BPM, Lessa foi adido da Polícia Civil – na Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE), na Delegacia de Repressão à Roubo de Cargas (DRFC) e na Divisão de Capturas da Polinter Sul.

Ainda na PM, Lessa foi guarda-costas do banqueiro de bicho Rogério Andrade, até que um atentado a bomba matou o filho de Andrade.

Após ele mesmo perder a perna em um atentado, reformou-se na PM – e, segundo a polícia, passou a atuar, como matador de aluguel, com um dos fundadores do Escritório do Crime, o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, hoje foragido, após a Operação Os Intocáveis, desencadeada pelo Ministério Público.

O ofício de Lessa, segundo reportagem do jornal Extra, não era desconhecido: “Num cenário em que o dinheiro da corrupção garantia a impunidade destes mercenários, Lessa nem sequer se dava ao trabalho de agir às sombras. Para agenciá-lo, bastava dar uma passada no bar onde o ex-adido fazia ponto no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca“.

Em 1998, ele foi homenageado, através de uma “moção de congratulações, aplausos e de louvor”, pela Assembleia Legislativa, por iniciativa do falecido deputado Pedro Fernandes – avô do secretário de Educação do governo Witzel.

A moção dizia:

Sem nenhum constrangimento posso afirmar que o referido militar é digno desta homenagem por honrar, permanentemente, com suas posturas, atitudes e desempenho profissional, a sua condição humana e de militar discreto mas eficaz. Constituindo-se, deste modo, em brilhante exemplo àqueles com quem convive e com àqueles que passam a conhecê-lo.”

Do Hora do Povo

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