A humilhação pública de militares inseguros

zumbis

Por Moisés Mendes

As Forças Armadas, puxadas para a arapuca da cumplicidade e da subserviência articuladas por Bolsonaro, vêm sendo humilhadas pelo envolvimento de alto risco com um governo de extrema direita.

A CPI do Genocídio, que já enquadrou o general Eduardo Pazuello por duas vezes, nesta quarta-feira submeteu um coronel do Exército a uma humilhação exemplar.

O coronel Elcio Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, sempre submetido às ordens de Pazuello, foi provocado pelo senador Alessandro Vieira, do Cidadania de Sergipe, a dizer qual era o broche que levava na lapela.

O coronel da reserva, que teve amplos poderes para tratar das questões da pandemia como o segundo de Pazuello, respondeu que aquele era o broche das Forças Especiais do Exército.

O senador preparou a armadilha e pediu que o militar da reserva soletrasse então o lema das forças às quais pertence.

O coronel respondeu com voz firme, assertiva, de oficial orgulhoso do broche que carrega no peito e dos 39 anos de serviços prestados ao Exército:

“Qualquer missão, em qualquer lugar, em qualquer horário, de qualquer maneira”.

O senador observou que um broche como aquele, representando um punhal ensanguentado, “não se compra numa lojinha do Paraguai”, pois é conquistado por mérito. E passou a atacar:

“Isso o coloca numa posição difícil. É muito improvável que um cidadão com a sua formação, com a sua qualificação e com o senso de missão que o Exército brasileiro desenvolve, tenha colocado a sua força em defesa do brasileiro e não tenha apresentado resultado adequado”.

O coronel foi ouvindo a lição sobre o sentido de missão a que um oficial do Exército se submete como membro de elite de forças especiais.

O senador continuou.

Se o coronel tivesse recebido a missão de comprar vacinas, essa missão não teria sido cumprida.

E fez a ressalva:

“Fica muito claro que o que vossa senhoria fez foi cumprir sua missão, conforme ela foi determinada. Ao estimular o protocolo do tratamento precoce, o senhor foi bem. Essa missão foi cumprida exemplarmente”.

O coronel Elcio Franco, segundo o senador sergipano, havia sido cúmplice e um dos principais articuladores do esquema de disseminação da cloroquina.

A missão do coronel não era a de comprar vacinas, mas a de conspirar contra a ciência e a imunização, incentivar o uso de um remédio que não cura e que mata, sempre obediente a qualquer missão, em qualquer lugar, em qualquer horário, de qualquer maneira e mesmo que em meio a uma pandemia.

O coronel ajudante de Pazuello foi chamado de mentiroso várias vezes pelos senadores.

Num desses momentos, quando o senador Rogério Carvalho, do PT, outro sergipano, disse que ele mentia, o oficial retrucou e disse que deveria ser respeitado.

Carvalho reagiu e afirmou que o militar é que deveria respeitá-lo por estar tentando enganar a CPI com inverdades.

O coronel se recolheu. Um militar estava sendo enquadrado ao vivo por um civil.

Pazuello já havia sido enquadrado.

Os militares são expostos, quase todos os dias, a vexames dentro e fora da CPI. Militares são interrogados e mentem nos interrogatórios.

Mentem muito e fabricam mentiras aparentemente complexas em todas as áreas.

O auditor do TCU Alexandre Figueiredo Costa e Silva, o divulgador de dados falsos sobre as mortes por Covid-19, é filho de um militar.

E esse militar é amigo da família Bolsonaro, cujo chefe se considera um militar.

Pois o auditor filho do militar amigo dos Bolsonaros também é amigo dos Bolsonaros.

O militar pai do auditor pegou os dados mentirosos e os repassou a Bolsonaro.

Os militares, dentro da mesma família, prestam serviços ao governo da família Bolsonaro.

É difícil hoje que um rolo com os Bolsonaros não tenha um militar envolvido.

Bolsonaro, os filhos e seus cúmplices civis e fardados transformaram as Forças Armadas na instituição mais vulnerável do país.

No depoimento na CPI, o coronel ajudante de Pazuello cumpriu a missão de proteger os chefes.

Oficiais que deveriam estar em missão institucional e constitucional estão a serviço de Bolsonaro e dos interesses do sujeito.

No fim da tarde, Elcio Franco pediu para ir ao banheiro. Demorou além do normal, e os integrantes da CPI passaram a especular sobre o que teria ocorrido com o coronel.

O tom era de algazarra no recreio, com a clara intenção de dar a entender que ele poderia ter fugido ou tido um mal súbito.

Alguém lembrou que o médico e senador Otto Alencar, que havia socorrido Pazuello, não estava ali para socorrer o ex-ajudante do general.

O Congresso faz zombaria de militares de alta patente em missões de alto risco. O Congresso está fazendo bullying com os oficiais de Bolsonaro.

Hoje, a exibição ostensiva de um punhal ensanguentado pode significar apenas que os militares estão mais inseguros e fragilizados.

Fonte: Brasil-247

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