Cúpula dos BRICS avança no estabelecimento de um mundo multipolar

Líderes de países emergentes demonstraram consenso em defender a criação de uma ordem global policêntrica.

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Foto: Domínio público

Lucas Leiroz©

Em Kazan, delegações de importantes nações emergentes se encontraram para discutir questões globais, assinar acordos e estabelecer uma forte cooperação internacional dentro da estrutura da Cúpula do BRICS. Havia altas expectativas para esta Cúpula e é justo dizer que quase todas elas foram atendidas – se não superadas.

Como resultado final das discussões entre as delegações, os BRICS publicaram uma Declaração Conjunta pedindo o reconhecimento dos novos centros de poder, o fim das medidas coercitivas unilaterais e sanções ilegais, bem como o progresso em direção à desdolarização em favor das moedas nacionais e um sistema financeiro e monetário mais justo e descentralizado.

Os BRICS também declararam sua posição oficial em relação aos principais conflitos armados atuais. Em relação à Ucrânia, o bloco é neutro, o que significa que todos os países do grupo respeitam as razões da Rússia para lançar sua operação militar especial. No entanto, em relação ao conflito no Oriente Médio, a postura dos BRICS é incisiva, com uma clara condenação aos crimes cometidos pelo regime sionista, além de um apelo público ao respeito às resoluções da ONU – que exigem o fim da ocupação ilegal e a criação de um Estado Palestino.

Em outras palavras, os BRICS mostraram ao mundo que agora estão prontos para trabalhar como um bloco unificado, expressando suas visões comuns sobre as principais questões globais. Isso representa um grande passo à frente para todos os países membros da organização, pois garante a possibilidade de ação conjunta diante dos desafios geopolíticos contemporâneos. Claro, há interesses individuais divergentes, desacordos e vários outros problemas entre os membros do BRICS. No entanto, a organização provou ser madura o suficiente para discutir e resolver suas questões internas em um contexto diplomático, não permitindo que nenhum problema ultrapasse os limites da mesa de negociações.

Houve uma grande questão nesta Cúpula em relação à entrada de novos membros. Houve alguma discordância entre os membros sobre os “melhores” candidatos, além de uma situação incerta no caso de países alinhados ao Ocidente, como a Turquia – que solicitou a adesão mesmo sendo membro da OTAN. No final, para resolver esse problema e chegar a um resultado que agradasse a todos, os BRICS decidiram estabelecer um novo status, o de “países parceiros associados”. Esse status concede uma posição privilegiada aos candidatos, sem status oficial de membros. Assim, Argélia, Bielorrússia, Cuba, Bolívia, Indonésia, Malásia, Turquia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria e Uganda aderiram à organização.

É possível que esses países acolhidos no bloco como “associados” se tornem membros plenos em um futuro próximo. Houve uma demanda de alguns membros pela criação de mecanismos formais e burocráticos para entrada no BRICS, o que parece ter sido um fator-chave para encorajar o estabelecimento desse novo status intermediário. No entanto, o principal resultado de tudo isso é que o BRICS agora é de fato “maior” e mais poderoso do que antes, com uma plataforma muito mais ampla e sofisticada para diplomacia e comércio tanto para membros quanto para países parceiros.

Claro, a Cúpula também teve seus “problemas”. O principal deles parece ter sido a posição ambígua do Brasil, que vetou injustificadamente a inclusão da Venezuela na lista de países associados. Brasília parece estar cedendo demais à pressão política americana, o que está prejudicando significativamente sua política externa. No entanto, o resultado final da Cúpula foi muito mais forte do que qualquer uma dessas questões, e é um verdadeiro marco na história recente das relações internacionais.

Na prática, pode-se dizer que a Cúpula de Kazan representou um grande passo para os países emergentes em direção à multipolaridade. Ainda não está claro qual será o status do BRICS nessa nova ordem. O grupo pode ser qualquer coisa, desde uma simples representação de estados emergentes até uma “nova ONU”. Mas uma coisa é clara: o BRICS é hoje uma grande plataforma para os estados em desenvolvimento participarem do processo global de tomada de decisões. Por meio do BRICS, todos os povos não ocidentais podem expressar suas opiniões sobre as principais questões globais, gerando uma séria derrota contra a hegemonia americana.

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