Vaza Jato – Pressão interna na Lava Jato aumenta após atritos entre Moro e Dallagnol

Reportagens da agência norte-americana de notícias Intercept Brasil, a partir de vazamentos obtidos no programa para celular, apontam que Dallagnol e Moro são suspeitos de formar um conluio para atingir a democracia brasileira, durante as eleições de 2018.

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Sem responder às perguntas dos opositores, na Câmara dos Deputados, Moro agradeceu aos elogios dispensados por aliados do governo

Investigador destacado da Operação da Lava Jato e ligado ao ex-juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, o procurador federal Deltan Dallagnol encontra-se desgastado junto à opinião pública e aos próprios colegas, que promovem uma revoada do grupo que investiga ilícitos na Petrobras. A primeira grande divergência entre Moro e Dallagnol foi exposta, nesta sexta-feira, em reportagens estampadas nos principais veículos da mídia conservadora, antes aliada de ambos; até a eclosão do escândalo da Vaza Jato.

Na revista semanal de ultradireita Veja, reportagem mostra que Dallagnol foi aconselhado a se afastar do comando da força-tarefa. O procurador não apenas discordou da ideia e permaneceu na operação, mas segue usando o aplicativo Telegram para assuntos de trabalho.

Reportagens da agência norte-americana de notícias Intercept Brasil, a partir de vazamentos obtidos no programa para celular, apontam que Dallagnol e Moro são suspeitos de formar um conluio para atingir a democracia brasileira, durante as eleições de 2018; com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Conteúdos

Entre outras faltas, Moro teria sugerido o acréscimo de informações na produção de provas, questionado a capacidade de uma procuradora para interrogar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e interferido nos acordos de delação premiada.

Diante tamanho desgaste, tanto de Moro quanto de Dallagnol — que já posaram de heróis junto aos brasileiros mais crédulos — o número de procuradores que deixaram a Lava Jato entre o período das eleições 2018 e as vésperas da Vaza Jato da Intercept Brasil — um intervalo de menos de um ano — é maior do que em todo o tempo anterior, quatro anos e meio, de vigência da operação.

“Todos pediram para sair”, revela levantamento do jornalista Hugo Souza, no blog Come Ananás.

Força-tarefa

Chamaram atenção do jornalista outros dois pedidos de demissão de nomes ligados à Lava Jato, esses já com a Vaza Jato a pleno vapor. Primeiro, no último 9 de julho, Giselly Siqueira deixou a assessoria de comunicação do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Giselly é nora da jornalista Miriam Leitão.

A jornalista é casada com o também jornalista Vladimir Netto, autor de um best-seller cujo lançamento Sergio Moro foi prestigiar: um “livro-reportagem” que “se debruça” sobre o trabalho de Moro como juiz da Lava Jato, seu “vasto conhecimento técnico, as perguntas meticulosas, as sentenças fundamentadas e a coragem de enfrentar a pressão de advogados de renome”.

Três dias depois, no dia 12, o coordenador da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República, José Alfredo de Paula Silva, pediu exoneração do cargo, por “motivos pessoais”, poucos dias antes de a procura-geral da República, Raquel Dodge, reunir-se com Dallagnol e mais sete procuradores da força-tarefa do MPF em Curitiba para prestar-lhes “apoio institucional” diante das revelações da Vaza Jato.

Bate-boca

“A crônica jornalística brasileira, porém, deu conta de que José Alfredo pediu para sair porque estava insatisfeito com a intenção de Raquel Dodge de se reconduzir ao cargo, de “correr por fora” da lista tríplice com os candidatos a Procurador-Geral da República mais votados pelo conjunto dos procuradores do Ministério Público”, acrescentou.

As mais recentes revelações da Vaza Jato, publicadas na última quarta-feira, mostram que as interferências de Sergio Moro no trabalho da força-tarefa do MPF no Paraná causou pelo menos um bate-boca, via chat, em 2015, entre Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima.

Enquanto Dallagnol, chefe da força-tarefa, defendia a interferência de Moro, ao combinar com o juiz, pedir-lhe autorização para cada passo dos procuradores da Lava Jato, especialmente a respeito dos acordos com delatores, Carlos Fernando reclamava de “jogar para a plateia”, “dobrar demasiado o colaborador” e de falta de “boa fé”.

Dominós

“Carlos Vc quer fazer os acordos da Camargo mesmo com pena de que o Moro discorde? Acho perigoso pro relacionamento fazer sem ir FALAR com ele”, digitou Dallagnol a Carlos Fernando no dia 25 de fevereiro de 2015.

Em outro chat datado de fevereiro de 2015, Carlos Fernando levou uma dura reprimenda do chefe, que é 15 anos mais jovem do que ele, por causa do desconforto na equipe de procuradores com o fervor palestrante de Dallagnol: “não me encham o saco”.

Exatamente um mês antes de deixar a Lava Jato, portanto no dia 21 de agosto do ano passado, Carlos Fernando dos Santos Lima fez sua primeira e até hoje única publicação em sua conta no Twitter: um link para um comentário que o próprio Carlos Fernando fizera no Linkedin sobre um artigo da revista britânica The Economist.

A matéria na revista britânica trata da necessidade de os chefes prezarem pelo “controle ético” das atividades da sua equipe; da “necessidade de proteção (pelos chefes) dos empregados e do ambiente de trabalho”; sobre, palavras de Carlos Fernando, “a observância orgânica do compliance“, acrescentou Souza.

O título do artigo é “Horrible bosses”. Carlos Fernando traduziu e destacou a primeira frase do texto: “eles estão caindo como dominós”.

Do CdB

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