A era da mediocridade

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A chegada do ano de 2000 era  muito aguardada, mas também gerava um medo místico em muita gente devido à chamada “profecia do fim do mundo”. O ano 2000 chegou e nada do fim do mundo! Ai veio o ano de 2001, esse sim era o ano do início do um novo milênio – o terceiro. Pensávamos (eu era um deles) que este novo milênio seria dominado pela razão pela ciência, pela liberdade de pensar! As pessoas seriam dotadas de novas possibilidades e  potencialidades graças às facilidades de acesso a informação e conhecimento devido democratização da internet. Porém parece que nada disso está acontecendo, pelo contrário! Muitas pessoas gastam o precioso tempo em futilidades em redes sociais, e as fakes news espalham feito fogo no rastilho pólvora. Estamos vivendo um período das superficialidades, das coisas instantâneas, todas as verdades mais profundas são descartadas.

Este  estado de coisas é um terreno fértil para todo tipo de oportunistas, e o fundamentalismo pentecostal é a face mais visível dessa nova etapa de nossa história.

A escola sem partido é a ação mais nefasta e deletéria desse fundamentalismo, seus ativistas não querem uma escola que ensine ao aluno a arte da reflexão, na verdade eles querem que os alunos se tornem adultos que sejam dóceis e manipuláveis para pastores inescrupulosos e prontos para o mercado de trabalho como mão de obra barata para honra e glória do capitalismo neoliberal.

Lembro-me quando eu estava cursando a faculdade havia uma professora de Física que sempre dizia: Pensar dói! Realmente  ela tinha razão, pois a partir do momento que a pessoa começa a pensar … refletir, ela já não é mais a mesma, o sujeito começa a mudar a sua própria realidade e sua visão e mundo, é uma etapa difícil por isso dói mesmo! E a escola e principalmente os professores que ensinam aos alunos a pensar vai contra esses objetivos e por isso a perseguição dos novos macarthistas da escola sem partido.

Mas o que dizer de um astrólogo chamado Olavo de Carvalho ser alçado à condição de guru dos bolsominions e para cúmulo do absurdo ser aclamado como “filósofo”!!!  Considerar esse louco varrido como filósofo é rebaixar ao nível da sarjeta grandes mestres da antiguidade como Diógenes, Sócrates e Platão e mais recentemente  Espinoza, Hegel, Rousseau e os grandes gênios e heróis da classe proletária Friedrich Engels e Karl Marx!

Mas o absurdo não para por ai, o próprio Olavo atribui para si o mérito de indicar o chanceler Ernesto Araújo e o colombiano Ricardo Vélez-Rodriguez para ministro da educação! Uma coisa dessa não tem a mínima chance de dar certo! É muita humilhação para um país que tinha e tem enormes possibilidades de estar entre as grandes nações.

São tempos muito sombrios!

Abaixo reproduzo um texto postado no Tijolaço que li enquanto havia iniciado o texto acima:

Orgulhosamente Burros

Embora tragicamente óbvio, é para pensar o texto do alemão Philipp Lichterbeck, que viveu até recentemente no Brasil e escreve na agência estatal de notícias da Alemanha, a Deutsche Welle. Em que estamos nos tornando, sob os “hospícios” da mídia, da elite dirigente, e de interesses políticos e de uma casta jurídica – bacharéis idiotas, intelectuais de concurso –  que, para derrubar uma sequência de governos progressistas, nos fazem viver o paradoxo de termos um estadista na cadeia e um imbecil no poder.

A inteligência tornou-se um crime nestas terras, enquanto durar o tempo do orgulho de ser burro.

Brasil, um país do passado

Philipp Lichterbeck, na DW Brasil

É sabido que viajar educa o indivíduo, fazendo com que alguém contemple algo de perspectivas diferentes. Quem deixa o Brasil nos dias de hoje deve se preocupar. O país está caminhando rumo ao passado.

No Brasil, pode ser que isso seja algo menos perceptível, porque as pessoas estão expostas ao moinho cotidiano de informações. Mas, de fora, estas formam um mosaico assustador. Atualmente, estou em viagem pelo Caribe – e o Brasil que se vê a partir daqui é de dar medo.

Na história, já houve momentos frequentes de regresso. Jared Diamond os descreve bem em seu livro Colapso: Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Motivos que contribuem para o fracasso são, entre outros, destruição do meio ambiente, negação de fatos, fanatismo religioso. Assim como nos tempos da Inquisição, quando o conhecimento em si já era suficiente para tornar alguém suspeito de blasfêmia.

No Brasil atual, não se grita “herege!”, mas “comunismo!”. É a acusação com a qual se demoniza a ciência e o progresso social. A emancipação de minorias e grupos menos favorecidos: comunismo! A liberdade artística: comunismo! Direitos humanos: comunismo! Justiça social: comunismo! Educação sexual: comunismo! O pensamento crítico em si: comunismo!

Tudo isso são conquistas que não são questionadas em sociedades progressistas. O Brasil de hoje não as quer mais.

Porém, a própria acusação de comunismo é um anacronismo. Como se hoje houvesse um forte movimento comunista no Brasil. Mas não se trata disso. O novo brasileiro não deve mais questionar, ele precisa obedecer: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

Está na moda um anti-intelectualismo horrendo, “alimentado pela falsa noção de que a democracia significa que a minha ignorância é tão boa quanto o seu conhecimento”, segundo dizia o escritor Isaac Asimov. Ouvi uma anedota de um pai brasileiro que tirou o filho da escola porque não queria que ele aprendesse sobre o cubismo. O pai alegou que o filho não precisa saber nada sobre Cuba, que isso era doutrinação marxista. Não sei se a historia é verdade. O pior é que bem que poderia ser.

A essência da ciência é o discernimento. Mas os novos inquisidores amam vídeos com títulos como “Feliciano destrói argumentos e bancada LGBT”. Destruir, acabar, detonar, desmoralizar – são seus conceitos fundamentais. E, para que ninguém se engane, o ataque vale para o próprio esclarecimento.

Os inquisidores não querem mais Immanuel Kant, querem Silas Malafaia. Não querem mais Paulo Freire, querem Alexandre Frota. Não querem mais Jean-Jacques Rousseau, querem Olavo de Carvalho. Não querem Chico Mendes, querem a “musa do veneno” (imagino que seja para ingerir ainda mais agrotóxicos).

Dá para imaginar para onde vai uma sociedade que tem esse tipo de fanático como exemplo: para o nada. Os sinais de alerta estão acesos em toda parte.

O desmatamento da Floresta Amazônica teve neste ano o seu maior aumento em uma década: 8 mil quilômetros quadrados foram destruídos entre 2017 e 2018. Mas consórcios de mineradoras e o agronegócio pressionam por uma maior abertura da floresta.

Jair Bolsonaro quer realizar seus desejos. O próximo presidente não acredita que a seca crescente no Sudeste do Brasil poderia ter algo a ver com a ausência de formação de nuvens sobre as áreas desmatadas. E ele não acredita nas mudanças climáticas. Para ele, ambientalistas são subversivos.

Existe um consenso entre os cientistas conhecedores do assunto no mundo inteiro: dizem que a Terra está se aquecendo drasticamente por causa das emissões de dióxido de carbono do ser humano e que isso terá consequências catastróficas. Mas Bolsonaro, igual a Trump, prefere não ouvi-los. Prefere ignorar o problema.

Para o próximo ministro brasileiro do Exterior, Ernesto Araújo, o aquecimento global é até um complô marxista internacional. Ele age como se tivesse alguma noção de pesquisas sobre o clima. É exatamente esse o problema: a ignorância no Brasil de hoje conta mais do que o conhecimento. O Brasil prefere acreditar num diplomata de terceira categoria do que no Instituto Potsdam de Pesquisa sobre o Impacto Climático, que estuda seriamente o tema há trinta anos.

Araújo, aliás, também diz que o sexo entre heterossexuais ou comer carne vermelha são comportamentos que estão sendo “criminalizados”. Ele fala sério. Ao mesmo tempo, o Tinder bomba no Brasil. E, segundo o IBGE, há 220 milhões de cabeças de gado nos pastos do país. Mas não importa. O extremista Araújo não se interessa por fatos, mas pela disseminação de crenças. Para Jared Diamond, isso é um comportamento caraterístico de sociedades que fracassam.

Obviamente, está claríssimo que a restrição do pensamento começa na escola. Por isso, os novos inquisidores se concentram especialmente nela. A “Escola Sem Partido” tenta fazer exatamente isso. Leandro Karnal, uma das cabeças mais inteligentes do Brasil, com razão descreve a ideia como “asneira sem tamanho”.

A Escola Sem Partido foi idealizada por pessoas sem noção de pedagogia, formação e educação. Eles querem reprimir o conhecimento e a discussão.

Karl Marx é ensinado em qualquer faculdade de economia séria do mundo, porque ele foi um dos primeiros a descrever o funcionamento do capitalismo. E o fez de uma forma genial. Mas os novos inquisidores do Brasil não querem Marx. Acham que o contato com a obra dele transformaria qualquer estudante em marxista convicto. Acreditam que o próprio saber é nocivo – igual aos inquisidores. E, como bons inquisidores, exortam à denúncia de mestres e professores. A obra 1984, de George Orwell, está se tornando realidade no Brasil em 2018.

É possível estender longamente a lista com exemplos do regresso do país: a influência cada vez maior das igrejas evangélicas, que fazem negócios com a credulidade e a esperança de pessoas pobres. A demonização das artes (exposições nunca abrem por medo dos extremistas, e artistas como Wagner Schwartz são ameaçados de morte por uma performance que foi um sucesso na Europa). Há uma negação paranoica de modelos alternativos de família. Existe a tentativa de reescrever a história e transformar torturadores em heróis. Há a tentativa de introduzir o criacionismo. Tomás de Torquemada em vez de Charles Darwin.

E, como se fosse uma sátira, no Brasil de 2018 há a homenagem a um pseudocientista na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, que defende a teoria de que a Terra seria plana, ou “convexa”, e não redonda. A moção de congratulação concedida ao pesquisador foi proposta pelo presidente da AL e aprovada por unanimidade pelos parlamentares.

Brasil, um país do passado.

 

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