Bielorrússia: Lobby da OTAN reconhece fracasso de sua ‘revolução colorida’

Sem tropa de choque nazista como a que os EUA usaram durantes os tumultos da praça Maidan em 2014 na Ucrânia, não há chance de derrubarem Lukashenko. Sem aquela tropa de choque, a luta terminará em massacre, com Lukashenko ainda vencedor

 protesto

Moon of Alabama

Bielorrússia: A ‘revolução colorida’ está morta. Viva a União de Estados Rússia-Bielorrússia**

Moon of Alabama(Traduzido em Blog Bacurau Homenagem ao Filme)

Dia 15 de agosto, explicamos por que a ‘revolução colorida’ na Bielorrússia fracassaria. O presidente da Bielorrússia Alexander Lukashenko manifestou ao presidente Vladimir Putin da Rússia a disposição da Bielorrússia para que se implementasse, afinal, o tantas vezes adiado Tratado da União de Estados que reúne Bielorrússia e Rússia. Em troca, pediu integral apoio dos russos para pôr fim à ‘revolução colorida’ que os EUA tentaram contra seu governo. Putin gostou e aceitou a troca. Consequentemente:

Lukashenko e sua polícia não aparecerão pendurados num poste. A Rússia tomará conta da questão, e a União de Estados finalmente entrará em vigor.

Não significa que a revolução colorida tenha acabado. EUA e Polônia, lacaia dos norte-americanos, não farão as malas e sumirão. Mas, com integral apoio dos russos já garantido, Lukashenko poderia tomar as medidas necessárias para pôr fim aos tumultos.

E ele as tomou. Lukashenko continuou a permitir manifestações, mas quando, no domingo, manifestantes foram induzidos a manchar na direção do palácio presidencial, receberam resposta teatral, mas forte:

O canal polonês Nexta Telagram (principal veículo usado pelo Império para tentar derrubar Lukashenko) convocou, inicialmente, um protesto pacífico, mas ao final do dia, passou a incitar os manifestantes a tentar invadir o prédio da presidência. Quando os agitadores (naquele momento já se tratava de tentativa violenta, ilegal, de derrubar o Estado – e já não se viam ‘manifestantes’) chegaram ao prédio, encontraram uma verdadeira “muralha” de guardas da polícia antitumulto devidamente paramentados: e bastou aquela visão (Ok, realmente assustadora) para deter os agitadores, por tempo suficiente para lhes cortar o ímpeto e fazê-los entender que tinham de se retirar.

Na sequência, Lukashenko tomou atitude realmente estranha, mas que faz perfeito sentido no contexto da Bielorrússia: meteu-se ele também no uniforme dos guardas antitumulto, passou a mão num rifle de assalto AKSU-74, fez o filho (de 15 anos!) fardar-se também como guarda antitumulto, capacete e tudo, subiu em seu helicóptero, sobrevoou Minsk e pousou frente ao prédio da presidência nacional. Os dois andaram na direção do pelotão de guardas antitumulto, e Lukashenko agradeceu-lhes calorosamente, movimento que lhe valeu aplausos entusiasmados de toda a força policial. Para muitos de nós, esse comportamento pode parecer estranhíssimo, se não perfeitamente idiota. Mas no contexto da crise bielorrussa, que é sobretudo combate que se trava no front ‘midiático’, faz perfeito sentido.

Os manifestantes, que a polícia identificara mais cedo  como “jovens endinheirados, filhos-de-papai, bem alimentados e vida boa” não tiveram coragem para atacar uma força policial bem armada e motivada.

O Conselho Atlântico, lobby da OTAN, também reconheceu essa evidência e lamenta:

Os manifestantes são de modo geral jovens gentis, polidos e pacíficos. Muitos são bielorrussos de classe média, que trabalham na florescente indústria de Tecnologia da Informação do país, e vêm às manifestações bem trajados, em roupas caras. Diferente dos eventos em Kiev em 2013-14, não há viés militante nas manifestações. De fato, essa revolução é tão ‘de veludo’, que as vezes parece que todos estão entediados. Para o bem ou para o mal, há marcada ausência de dos homens musculosos e de aparência agressiva, capazes de deixar desconfortáveis os liberais ou de comandar a resistência, se e quando o Estado autoritário decidir empregar força.

Sem tropa de choque nazista como a que os EUA usaram durantes os tumultos da praça Maidan em 2014 na Ucrânia, não há chance de derrubarem Lukashenko. Sem aquela tropa de choque, a luta terminará em massacre, com Lukashenko ainda vencedor. E o autor conclui, corretamente:

A resistência do regime de Lukashenko fortalece-se a cada dia. Com a Rússia agora, ao que parece, postada firmemente no apoio a Lukashenko, comícios ‘para as câmeras’ e movimentos grevistas apenas pontuais não bastarão para provocar mudança histórica.

Já acabou. As ‘greves pontuais’ jamais chegaram a ser ações industriais significativas. Alguns poucos jornalistas da TV estatal bielorrussa entraram em greve. Foram demitidos sem cerimônias e substituídos por jornalistas russos. Algumas centenas de trabalhadores de MTZ Minsk Tractor Works fizeram uma passeata. Mas a empresa MTZ tem 17 mil empregados, e os 16.500 que não foram à passeata sabem bem porque continuam empregados. Se Lukashenko fosse derrubado, seria alta a probabilidade de a MTZ ser ‘privatizada’, quer dizer, vendida por uns trocados e imediatamente ‘enxugada’, que é a expressão usada para demissões em massa. Durante os últimos 30 anos, todos os trabalhadores bielorrussos viram acontecer precisamente isso, em todos os países à volta da Bielorrússia. Não têm pressa alguma em ver acontecer também no próprio país.

Na 2ª-feira, o líder da primeira passeata da MTZ, um Sergei Dylevsky, foi preso quando convocava para outras greves. Dylevsky é membro de um autoproclamado Conselho de Coordenação da oposição, que quer que o presidente negocie com seus representados. Outros membros do conselho foram chamados para interrogatório, num processo criminal que tramita contra o conselho.

Enquanto isso, a infeliz candidata da oposição, Sviatlana Tsikhanouskaya, que se autodeclarou vencedora da eleição, mesmo sem votos, está na Lituânia. Apresenta-se como professora de inglês, mas não conseguiu nem ler o ‘manifesto’ em inglês em que pede (vídeo) que o ‘ocidente’ a apoie. Já se reuniu com vários políticos ‘ocidentais’, dentre os quais o secretário-geral do Partido da Democracia Cristã da chanceler alemã Angela Merkel, Peter Zeimiag, e o vice-secretário de Estado dos EUA Stephen Biegun. Nenhum desses conseguirá ajudá-la.

Com o apoio da Rússia, a estabilidade militar, política e econômica da Bielorrússia está garantida por enquanto. Algum dia Lukashenko será tirado do governo, mas acontecerá no momento adequado e pela via que convenha à Rússia, não porque algumas dúzias de hipsters ‘especialistas’ em Tecnologias da Informação e pagos pela NED dos EUA-Democratas cogitem de encenar algum tipo de revolução. *******

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