Governo Bolsonaro entra em modo de pânico

cloroquina

Por Luis Nassif /Jornal GGN

A temperatura da guerra política subiu substancialmente nos últimos dias.

Começou com a CPI do Genocídio e a perspectiva concreta de ter na relatoria o senador Renan Calheiros.

Continuou com o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) consolidando a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. Não ficará nisso. O próximo passo será a investigação do que esteve por trás de sua atuação e dos procuradores da Lava Jato de Curitiba.

A sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) que marcou definitivamente o fim da Lava Jato desnudou de forma impiedosa o papel de dois ministros centrais no processo de eleição de Jair Bolsonaro: Luis Roberto Barroso e Luiz Edson Fachin. Na sessão, Barroso recorreu ao bordão desonesto, de que todo crítico da Lava Jato defendia a corrupção e que os erros da Lava Jato foram meros “pecadilhos”. A reputação de ambos morre abraçada à Lava Jato.

Por outro lado, a decisão libera definitivamente Lula para concorrer às próximas eleições, o que cria um ponto de tentação para muitos dos atuais aliados de Bolsonaro. O que garante a lealdade política não é a situação presente de um governo, mas a perspectiva futura, ainda mais quando se aproxima o período eleitoral.

O ponto de ebulição foi a entrevista à revista Veja de Fabio Wajngarten, ex-Secretário de Comunicação Social do governo, jogando a responsabilidade pela falta de vacinas nas costas do ex-Ministro Eduardo Pazuello. Segundo ele, Bolsonaro se empenhou pessoalmente na compra de vacinas da Pfizer, mas foi boicotado por Pazuello.

Na manobra estão as impressões digitais da família Bolsonaro, mas não ajudará a aliviar a situação na CPI. O boicote à vacina foi explicitado de maneira pública por ele por diversas vezes. Há um longo histórico de crimes contra a saúde pública praticados por Bolsonaro. E é público o episódio em que desautorizou Pazuello, depois que ele anunciou a compra de vacinas da Coronavac. Política através de rede social dá nisso. Houve a cena clássica, de Bolsonaro indo à casa de Pazuello e o general se rebaixando a ponto de declarar que um manda (Bolsonaro), outro obedece. Não haverá como atribuir a um subserviente como Pazuello qualquer resistência às ordens emanadas por Bolsonaro.

Por outro lado, o episódio ajudará a desmanchar a rede de lealdades que poderia blindar o presidente. Trata-se de uma situação clássica em organizações criminosas. Os subordinados se mantém leais às chefias enquanto acreditam na manutenção do seu poder e na sua lealdade. Com a entrevista de Waingarten, certamente Pazuello se considerará desobrigado de qualquer demonstração de lealdade a seu ex-chefe. E não apenas ele.

O episódio também impactará decisivamente as Forças Armadas. Dias atrás, a coluna de Anselmo, em O Globo, relatou que, no evento de posse dos novos comandantes das Forças Armadas, o ex-comandante do Exército, Roberto Pujol, dirigiu-se a Pazuello e o criticou. Disse que ao se sujeitar à ordem de Bolsonaro, de não adquirir as vacinas, “ferrou” com ele próprio e com as Forças Armadas.

O episódio da traição de um comandante a um subordinado que acatava todas suas ordens é pecado mortal, especialmente na psicologia militar.

O episódio expõe um duplo enfraquecimento de Bolsonaro. De um lado, mostra sua vulnerabilidade à CPI; de outro, um rompimento moral com as Forças Armadas. Esse enfraquecimento, somado à volta de Lula, provocará rachas óbvios na aliança com o Centrão. Pelo que se conhece da sociopatia de Bolsonaro, acuado sua tendência será partir para o ataque. O que ampliará ainda mais a temperatura política.

Some-se o enorme desgaste de Bolsonaro provocado por sua participação na Cúpula do Clima e os arroubos do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atuando com tal desenvoltura no desmanche das políticas ambientais, que é impossível que não esteja amparado em esquemas pesados.

A decisão de Flávio Bolsonaro – o filho das “rachadinhas” – de abrir um escritório de advocacia no Distrito Federal, depois de adquirir uma mansão subavaliada, mostra a total insensibilidade da família em relação aos perigos políticos.

As próximas semanas serão emocionantes.

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