Nova Ordem Mundial, globalização e “liderança” dos EUA – Descansem em paz

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Já há muitos anos era óbvio que o Império americano-sionista não era viável, que tinha que se afundar mais cedo ou mais tarde. Havia dois cenários principais normalmente considerados para esse colapso: uma crise externa (tipicamente uma grande derrota militar) ou uma interna (colapso econômico). Pessoalmente, sempre acreditei mais no primeiro cenário. Tinha até um local “favorito” para uma derrota militar catastrófica (para os EUA): o Irã e o Médio Oriente. Independentemente do cenário preferido, tornava-se óbvio que:

1. O Império não era viável
2. O Império não era reformável

O mesmo é válido para o sistema político dos EUA. No entanto, havia um problema enorme. A qualidade e a dimensão da máquina de propaganda dos EUA foi muito bem-sucedida em manter a maioria das pessoas no Ocidente na total ignorância dessas realidades. Quanto mais rapidamente o Império entrava em colapso, mais Obama ou Trump apimentavam as suas cerimonias patrióticas de agitação da bandeira (também conhecidas como “conferências de imprensa”) com referências a uma “nação indispensável” proporcionando uma “liderança vital” graças à sua “melhor economia da história”, os “melhores militares da história”, e até “dirigentes de empresa inexcedíveis” “políticos incomparáveis” e “conversações extraordinárias”. A mensagem era simples: somos os melhores, melhores que todos os outros e invencíveis.

Então o Covid-19 aconteceu.

A reação inicial nos EUA à pandemia foi descartá-la completamente ou culpar os chineses. Outra teoria excepcionalmente idiota era que o vírus afetava apenas os asiáticos. Esta mentira foi muito rapidamente desmascarada. Outros mitos, e até mentiras diretas, mostraram-se muito mais resistentes, pelo menos por algum tempo.

Então a “Itália” aconteceu. Logo seguida pela Espanha e França. Algumas pessoas começaram a mudar de música. Outros ainda pensavam que a UE não era tão “incomparável” quanto os EUA. Então “Nova York” aconteceu e o inferno abriu-se para a “nação indispensável” e o “parasita imperial” que esta nação estava hospedando. Até o idiota-chefe passou de “terminará na Páscoa” para falar em poupar “milhões” de “estado-unidenses” (os EUA não se importam com os “não-americanos”).

Prevejo que este processo agora só acelere. Aqui estão algumas razões para esta conclusão:

Primeiro, a máquina imperial de propaganda é simplesmente incapaz de ocultar a magnitude do desastre, mesmo em países como os EUA ou o Reino Unido. Ah, claro, inicialmente médicos e até comandantes de navios da US Navy foram sumariamente demitidos por falar a verdade, mas mesmo estes casos mostraram-se impossíveis de ocultar e a opinião pública ficou ainda mais desconfiada das garantias e declarações oficiais. A verdade é que a maior parte do planeta já percebeu que é uma crise enorme e que países como a Rússia ou a China responderam quase que infinitamente melhor que os EUA.

Também todos sabem que o sistema de assistência médica dos EUA está falido, corrompido e principalmente disfuncional e que o otimismo inicial de Trump não foi baseado em coisa alguma. Os que odeiam Trump instrumentalizaram imediatamente a crise para o esmagar. O triste é que, embora eles não sejam melhores, estão certos sobre Trump estar completamente fora da realidade. Na era da Internet, esta é uma realidade que mesmo a máquina de propaganda dos EUA não consegue esconder para sempre do público dos EUA.

Segundo: e isto é absolutamente óbvio, agora está a ficar claro que a ideologia capitalista dos mercados livres, globalismo, consumismo, individualismo extremo e, acima de tudo, ganância, é totalmente incapaz de lidar com a crise. Ainda mais ostensivamente para aqueles que acreditaram numa ideologia baseada na suposição de que a soma das cobiças criaria uma sociedade ideal, quando países com tradições coletivistas mais fortes de solidariedade (“aprimoradas” por ideias marxistas ou socialistas) se saíram muito melhor. A China, mas também Cuba e até a Rússia (que não é marxista nem socialista, mas que tem tradições coletivistas muito fortes) ou Coreia do Sul ou Singapura (ambos não-marxistas, mas com fortes tradições coletivistas). Até a Venezuela, em apuros e sitiada pelo Império, consegue sair-se muito melhor que os EUA ou o Reino Unido .

Todos esses países não apenas se saíram muito melhor que países muito mais ricos e supostamente mais “livres”, além de fazerem-no sob as sanções dos EUA. E, finalmente, apenas para acrescentar o insulto à injúria, esses países supostamente “ruins” mostraram-se muito mais generosos do que os incorporados no Império: enviaram muitas toneladas de equipamentos de vital importância e centenas de cientistas especializados e até militares para ajudar os países em necessidade (Itália, Espanha, Sérvia, etc).

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Um avião militar Antonov russo traz ajuda humanitária aos EUA

Finalmente, até os EUA precisaram de aceitar ajuda da Rússia: o conteúdo de dois enormes aviões cargueiros militares AN-124.

Pense na ironia! O país cuja economia deveria estar “em frangalhos” (Obama) entrega ajuda humanitária à “nação indispensável” (Obama novamente). Essa ajuda não só foi entregue por um país sob sanções dos EUA, mas também foi produzida por uma empresa russa sob sanções dos EUA. Os media norte-americanos “gratos” declararam imediatamente que essa era uma ação de relações públicas da Rússia, especialmente porque 50% da carga foi paga pelos EUA (o restante, incluindo custos de transporte, foi pago pela Rússia).

Pelo menos na Itália começaram a surgir questões sobre as razões pelas quais os EUA, a NATO (Otan) ou a UE não fizeram absolutamente nada para ajudá-los quando precisavam, e que os países que ajudaram generosamente (Rússia, China, Cuba) estavam todos sob sanções, incluindo as italianas! Boas perguntas, de fato. A que o presidente sérvio Vucic, respondeu declarando que a solidariedade europeia era um “conto de fadas”. Ele está certo, é claro.

Terceiro, todos nós vimos a atitude vil de várias “democracias” ocidentais literalmente roubando equipamentos médicos vitais uns aos outros. De fato, sob uma lógica puramente capitalista, esse tipo de “competição” era inevitável (verdadeiro) e até desejável (falso): as principais empresas médicas e farmacêuticas usaram esse recurso financeiro para maximizar os seus lucros (que é, afinal, o que todas as empresas têm de fazer num sistema capitalista: obter o máximo de dinheiro possível para seus acionistas). Mesmo agora países competem entre si por equipamentos médicos! Enquanto tudo estava bem e o Ocidente era livre para saquear o resto do planeta, o capitalismo poderia ser visto como uma promessa de um futuro melhor (assim como o comunismo, aliás). Mas agora que esse grande “baralho de cartas propagandístico” está a desmoronar-se e o capitalismo mostra sua verdadeira face (uma ideologia criada pelos ricos para tramar os pobres), a comparação com as sociedades coletivistas (supostamente “atrasadas”) é mais embaraçosa, mas inevitável.

Quarto, também testemunhamos a grosseira vilania da máquina imperial de propaganda em artigos sobre como “a Rússia enviou equipamentos inúteis para a Itália”, que “equipamentos chineses não funcionaram” ou sobre como todos os países que responderam melhor e mais cedo estavam a mentir sobre os números reais (o que é totalmente sem sentido, os chineses têm sido muito abertos, assim como os russos: a verdade é que, nas fases iniciais de uma pandemia, é impossível obter números reais, o que só pode ser feito depois). Isso é tão falso quanto as “armas de destruição em massa iraquianas”, “sérvios genocidas” ou “Viagra de Gaddafi” e o tempo provará isso.

Quinto, há a questão da pobreza. Vemos os primeiros sinais de que esta pandemia (como todas as pandemias) está a afetar muito mais os pobres do que os ricos. Dificilmente é uma surpresa… Por exemplo, em cidades dos EUA, como Nova York, Chicago, Detroit, Miami ou Nova Orleãs, existem muitos bairros pobres e as pessoas são atingidas com muita intensidade. Mas isto é apenas o começo, existem favelas muito maiores noutros países, inclusive na América Latina e, provavelmente ainda pior, na África. Exceto algum tipo de milagre, o número de mortos nas favelas do terceiro mundo será absolutamente horroroso. E pode-se ter a certeza de que os países pobres coletivistas se sairão muito melhor do que aqueles agarrados aos delírios da economia de mercado livre. Mais uma vez, haverá grandes consequências políticas em todos esses países: prevejo vermos em alguns casos mudanças de regime num futuro não muito distante.

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Sexto, assim como o próprio Império, também a NATO e a UE estão em queda livre e em pânico sem noção do que é ser proativo. Além do idiota em chefe que agita as bandeiras, aproveitei o tempo para ouvir Macron e Merkel. Os dois estão em estado de pânico, Macron fala repetidamente sobre uma “guerra”, enquanto Merkel declarou que a pandemia é o desafio mais sério que a Alemanha enfrenta desde a Segunda Guerra Mundial! Ainda assim, o contraste mais surpreendente para os EUA pode ser a Rússia. Putin fez vários apelos especiais ao povo russo, e a sua fisionomia era claramente determinada e claramente sombria. Tirei uma imagem da última mensagem de Putin ao povo russo e vi a sua expressão:

O principal médico responsável pela crise do Covid-19 em Moscou, disse a Putin que a Rússia precisava preparar-se para o que chamou de “o cenário italiano e para evitá-lo”, embora na época (30 de Março) houvesse apenas 1 836 casos confirmados de Covid-19 na Rússia, incluindo 9 óbitos e 66 recuperações. Vamos comparar os três países:

Country COVID cases detected Deaths Recoveries
US 161,807 2,978 5,644
Italy 101,739 11,591 14,620
Russia 1,836 9 66

Fonte: https://coronavirus.jhu.edu/map.html (em 30 de março)

Além disso, as equipes médicas especiais russas das tropas de proteção nuclear, biológica e química das forças armadas russas estão agora em alerta máximo e, embora não haja escassez de equipamentos médicos especializados para estes efeitos na Rússia, as forças armadas russas estão agora a construir 16 hospitais especiais em vários locais na Rússia. A Rússia também está a encerrar quase completamente o tráfego aéreo e ferroviário interno. Muito disto era previsível, já que Moscou é muito mais rica do que qualquer outra região russa, Moscou está indo bem, apesar de ter uma população enorme (cerca de 12 milhões na cidade, mais 7 ou mais no distrito de Moscou). Aqui estão os números oficiais da Rússia para a área de Moscou (em 30 de Março):

Localização Infectados Mortes Recuperados % mortes
Cidade de Moscou 1 226 11 28 0,9%
Distrito de Moscou 119 1 14 0,85%

Fonte: https://coronavirus-monitor.ru/

Parece muito estranho que um país como a Rússia, que com evidência está a sair-se muito melhor do que os EUA (mesmo em indicadores per capita) esteja a preparar-se para o pior? O que sabem os russos que os líderes americanos não dizem?

Obviamente, a máquina de propaganda anti-russa tem uma explicação. Por exemplo, alega que os russos estão a mentir sobre tudo. Existe até um psicopata colaborando com agentes ocidentais fingindo representar os médicos russos, alegando que existem milhares de mortes ocultas, que a Rússia não tem equipamento e que os russos não têm noção do que se passa. Um analista anteriormente sóbrio agora até afirma que “Putin está a perder o controle”.

Para ser totalmente sincero, nunca na minha vida vi tal tsunami de idiotices, informações falsas, rumores infundados e, por último, mas certamente não menos importante, vergonhosas formas de enganar. Para alguns, esta crise é uma oportunidade de recuperar alguma visibilidade. É vergonhoso, realmente uma desgraça total, ser apenas uma nova forma de lucrar com uma crise.

Não sou médico especialista, certamente que não. Mas conheço o governo russo e sua “linguagem corporal”. Por isso posso dizer que os russos estão a preparar-se muito, muito a sério, para o que pode muito bem tornar-se uma enorme crise até para a Rússia (ter a Ucrânia e a Bielorrússia negando profundamente a pandemia obviamente não ajudará!).

Sete, nos EUA, o contraste entre o governo federal e as autoridades estaduais é bastante surpreendente. Por mais que o governo federal seja incuravelmente disfuncional, os governadores estaduais muitas vezes tiveram que usar expedientes para obter suprimentos e especialistas. Por exemplo, o governador da Florida, Ron DeSantis (R), teve que ligar para um amigo em Israel a fim de pedir à gigante farmacêutica israelense Teva Pharmaceuticals que enviasse equipamentos médicos desesperadamente necessários para a Florida. Acredito que coisas semelhantes aconteçam noutros Estados. Esta é uma das razões pelas quais os americanos geralmente desconfiam do governo federal, mas apoiam muito mais as autoridades locais (como regra geral, existem, é claro, excepções). Há muitas razões para o contraste entre as autoridades federais e estaduais, incluindo o facto de que os governadores estão muito mais “próximos” dos seus constituintes no nível local do que no nacional.

Embora não seja tão radical quanto o contraste entre sociedades baseadas na pura ganância e sociedades baseadas na solidariedade, o contraste entre os níveis local e nacional também contribuirá para o colapso do sistema imperial, ainda que mais indiretamente.

Conclusão: Nova ordem Mundial, globalização e “liderança” dos EUA – Descansem em paz

A primeira vítima (não humana) desta pandemia é a chamada “Nova Ordem Mundial” prometida por vários presidentes dos EUA. O mesmo vale para a ideologia da globalização subjacente. Se o suposto “governo mundial dos iluminados”, imaginado por alguns, realmente desencadeou esta pandemia, então acertou um tiro no pé, o qual agora está a sangrar rapidamente.

Os Estados Unidos mostram ao mundo que a chamada “liderança dos EUA” não passa de uma mentira grosseira para esconder o que descreveria como uma hegemonia mundial narcisista, que vai destruir mesmo os seus “aliados mais próximos” (realmente colônias) para obter alguma vantagem.

No momento, a maioria do que vemos são apenas sinais de alerta, tal como por exemplo membros da UE a fecharem as suas fronteiras. Mas, independentemente de como esta pandemia progrida, o que acontecerá a seguir é uma enorme crise econômica que superará tanto a Grande Depressão, como a crise após o 11 de Setembro e a de 2008.

É claro que, mais cedo ou mais tarde, o mundo irá recuperar-se do colapso pandêmico e econômico. Mas o tipo de mundo que então veremos será radicalmente diferente daquele em que vivemos até agora.

Por enquanto, ainda existem manifestações observáveis da “liderança dos EUA”: os EUA tentam arduamente roubar remédios e equipamentos médicos de outros países, impõem sanções a países como o Irã e a Venezuela que precisam desesperadamente de remédios e agora voltam a exibir o cenário contra Maduro. Esta política externa de “liderança dos EUA” pode ser resumida como maldosa, imoral, hipócrita, disfuncional, narcisista, etc. Qualquer que seja o rótulo que se escolha aplicar, é sempre uma política moralmente repugnante e na prática auto-destrutiva.

Precisamente agora, depois de culpar a China, Trump está a apontar o dedo à OMS. Não há mais como esconder isto: o SARS-COV-2 alcançou o que nem a RT ou a PressTV conseguiram: colocou uma luz bastante clara sobre a verdadeira natureza do Império americano-sionista.

Atualização: Eu estava errado, admito. O governo dos EUA não pensa apenas em si mesmo. Pode ser muito generoso, mas apenas num caso especial. De fato, parece que os EUA enviaram UM MILHÃO de máscaras para… Israel, é claro! www.presstv.com/Detail/2020/04/08/622584/US-masks-Israel-coronavirus-covid19

Afinal, isto faz sentido: Israel é muito mais importante para Trump e seu gangue, do que enfermeiros, médicos ou pessoas que sofrem nos EUA.

Fonte: The Saker

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2 thoughts on “Nova Ordem Mundial, globalização e “liderança” dos EUA – Descansem em paz

  1. Uma das unicas coisas que ainda seguram os EUA e seu sistema de propaganda é hollywood e silycon Valley.O primeiro com seu cinema e seu boom de series televisivas, agora como streamings no mundo inteiro. O outro sao os gadgets eletronicos como o iPrhone, por enquanto imbativel em vendas.Mas isso em breve vai mudar assim que o monstrengo comunista\capitlaista chines pacificar a qualidade de seus produtos e criar uma cultura pop menos aborrecida, pois ainda se encontra na época medieval nesse quesito, o que a torna muito enfadonha para o Ocidente.

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