Aplicativos já se tornaram maiores empregadores do país. São 14 milhões de brasileiros trabalhando dessa forma
Pessoas que se dedicam ao trabalho informal no Brasil estão sempre ao alcance dos olhos.
Dentro dos vagões do metrô, dos ônibus e trens das grandes cidades, trabalhando entre estações e vivendo o risco de ser pego pela fiscalização, vendedores oferecem aos passageiros fones de ouvido, doces, suportes para celulares e toda sorte de mercadorias. Fora dos vagões, no entorno dos pontos de ônibus, das estações e terminais de transporte coletivo, vendem produtos diversos como frutas, café, sucos e bolos em barracas.
Com roupas, relógios e acessórios ocupam as calçadas, no centro comercial dos bairros, ou estão no trânsito levando algum passageiro ao seu destino. Segundo a Pnad Contínua do IBGE, 39,5 milhões de trabalhadores estão na informalidade no primeiro trimestre deste ano, o que corresponde a 43% da população ocupada no país. O Brasil de Fato foi às ruas ouvir trabalhadores e trabalhadoras informais e compreender as perspectivas do trabalho que exercem.
“O Brasil para mim é minha família, é minha mãe. Ele me enche a barriga, paga as minhas contas e as da minha família”, diz o peruano Jorge Poémape (63). Ele chegou em terras brasileiras no ano de 1983, e desde então trabalha como vendedor ambulante. Há 27 anos comercializa roupas e livros em frente ao Restaurante Central da Universidade de São Paulo (USP).
Agradecido, Poémape diz “vestir a camisa” do país que o acolheu, mas percebe que as coisas têm piorado ultimamente: “Antes tinha inflação, mas tinha pessoas que consumiam, tinha dinheiro. Agora está tudo parado. Hoje você compra o que é necessário, que é alimentação, o resto você pensa. Minhas vendas diminuíram cerca de 70% nos últimos anos”, estima.
Não há trabalho formal
O desemprego já atinge 13,4 milhões de brasileiros. Destes, 4,8 milhões estão em situação de desalento, quando se desiste de procurar trabalho. A economista Marilane Teixeira, pesquisadora de relações trabalho e gênero do CESIT/IE – Unicamp explica que sem a possibilidade de ter um emprego formal, os trabalhadores encontram formas de sobreviver pela sua própria demanda e vão para lugares públicos de maior circulação para oferecer seus produtos e serviços.
“O Brasil sempre teve um número grande de trabalho informal, porém, até 2015, houve políticas públicas de ampliação do emprego formal. Mas, nos últimos anos, todo trabalho que vem sendo gerado é na informalidade. É a figura do trabalhador por conta própria que assume diversas expressões, desde o ambulante, autônomo, PJ [pessoa jurídica], mas que não tem direito nenhum”, explica a economista.
Teixeira revela que o perfil de trabalhadores informais na região central da capital paulista, por exemplo, é de pessoas com mais de 50 anos, a maior parte tentando encontrar trabalho ou trabalhando por conta. Também há jovens desempregados há dois ou três anos e pessoas que já perderam esperança de retornar para o mercado de trabalho.
Diante da falta de empregos formais, muitos preferem trabalhar informalmente, sem a figura do patrão. “Trabalhar assim é melhor que trabalhar de empregada, porque cansa menos e ganha mais”, opina Leonice Santiago, em frente a mesa na qual expõe seus brigadeiros, bolinhos de pote e cones trufados.
Ela começou sua trajetória de vendedora ambulante há 3 anos, depois de perder o emprego. “Tenho vontade de melhorar minhas vendas e montar um negócio, uma fábrica de chocolate”, acrescenta. Santiago diz não ter vontade de trabalhar com carteira assinada, mas se preocupa com a aposentadoria. “Não sei o que vou fazer para me aposentar. Até porque sempre trabalhei sem registro. Vou ter que começar a pagar uma previdência privada. Isso é a única coisa que me incomoda”, afirma a doceira. (…)
Do Brasil de Fato