Pressionado por todos os lados, Bolsonaro entrega ‘a Deus’ a chance de terminar o mandato

A conversa, editada e cheia de cortes, foi transmitida por um site bolsonarista, que contornou o colapso da saúde em Manaus e pela reação negativa em relação ao início da vacinação no país. No diálogo, Bolsonaro comenta a situação em Manaus, que teve no dia 14 de janeiro o seu sistema de saúde colapsado devido à falta de oxigênio.

aglomeração
Bolsonaro promoveu aglomerações, sem usar máscara higiênica contra covid-19, e pregou o uso da cloroquina, que não tem qualquer efeito sobre a covid-19

Com ameaças veladas à democracia brasileira diante de um pedido de impeachment cada vez mais perto, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entregou aos céus a chance de terminar o mandato iniciado em 2019. Na noite passada, o mandatário neofascista disse que, “se Deus quiser”, chegará ainda no cargo, em 2022.

“Lamento… se Deus quiser vou continuar meu mandato e em 22 o pessoal escolha. Tem muita gente boa para escolher. Eu espero que os bons se candidatem, não deixar vir os mesmos candidatos — disse Bolsonaro, em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada”.

A conversa, editada e cheia de cortes, foi transmitida por um site bolsonarista, que contornou o colapso da saúde em Manaus e pela reação negativa em relação ao início da vacinação no país. No diálogo, Bolsonaro comenta a situação em Manaus, que teve no dia 14 de janeiro o seu sistema de saúde colapsado devido à falta de oxigênio causada pelo aumento da demanda de pacientes com covid-19.

Culpa alheia

O governo federal teve ciência, uma semana antes, da grave ameaça à vida dos pacientes pela falta do gás vital, o que coloca em xeque a atuação do Planalto na crise de saúde.

“Tem governo federal, estaduais e municipais, é compartilhado. Nós aqui fazemos tudo o que é possível, quando é solicitado nós atendemos. Há uma diferença enorme entre o que aconteceu no passado e o que acontece hoje em dia — tentou se justificar o presidente, junto aos seus seguidores”.

Na tentativa de fugir à responsabilidade, Bolsonaro responsabilizou o governo estadual e a Prefeitura de Manaus, liderados por Wilson Lima (PSC) e David Almeida (Avante), respectivamente.

“Agora quem… o primeiro a tomar providências em problemas lá é o governador e o prefeito. É que é fato: todo mundo me culpa. Tudo sou eu — vitimiza-se”.

Responsabilidade

Aparentemente exausto pela pressão imposta por fatos que poderão abreviar sua permanência no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse, nesta manhã, que carrega uma cruz pesada; além de reclamar da ação incisiva de seus opositores.

“Sabia que (o exercício da Presidência da República) não seria fácil, que a cruz seria pesada, mas ele (Deus) não nos passa um peso maior do que aquele que possamos carregar — acredita”.

Acontece, porém, que o possível impeachment de Jair Bolsonaro guarda argumentos jurídicos e morais irrefutáveis para o crime de responsabilidade, “e precisa ser colocado em votação”, afirma o jurista Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O catedrático afirma que o presidente mudou o entendimento de “genocídio” e comete um “atentado contra a população e contra a Constituição Federal”.

“A Constituição diz que o crime de responsabilidade precisa ser um atentado contra ela, não basta ter praticado uma inconstitucionalidade. Está caracterizado o crime por parte do presidente, durante a pandemia, dentro do plano jurídico. Bolsonaro cometeu um atentado contra a humanidade — afirmou Serrano à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA)”.

Bomba atômica

Desde o início de seu mandato, em 2019, Bolsonaro teve 61 pedidos de impeachment protocolados contra ele, na Câmara dos Deputados. Desse total, 54 pedidos foram feitos desde março do ano passado, quando teve início a pandemia de coronavírus.

O jurista explica que a pandemia colocou o Brasil numa ‘ilegalidade extraordinária’, que suspende alguns direitos para valer outros, como a quarentena obrigatória, por exemplo. Serrano acrescenta que, nesse sentido, o Poder Público tem como regra seguir a ciência, com cautela e prudência, mas Bolsonaro não fez.

O especialista em Direito Constitucional é incisivo: desde a criação da Constituição Federal de 1988, o único presidente que mereceu um impeachment é Jair Bolsonaro, por suas ações durante a pandemia.

É gravíssimo. O presidente apertou a bomba atômica contra sua própria população — denuncia Pedro Serrano.

Fonte: CdB

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