Os uniformes também estão novos em folha, com bonés pretos e letras vermelhas que dizem: “Kellogg feito no socialismo”, agora sem o apóstrofe e a letra ’S’, que significava o pertencimento à família norte-americana, dona da marca em nível mundial.
Na fábrica venezuelana Kellogg’s controlada pelos trabalhadores desde 2018, quando a multinacional norte-americana quis fechar a planta fabril, os trabalhadores trabalhavam neste sábado para fazer os flocos de milho e cereais açucarados. Mas com uma novidade. A nova embalagem do produto agora estampa a bandeira venezuelana e as palavras “Juntos pela Venezuela”.
Os uniformes também estão novos em folha, com bonés pretos e letras vermelhas que dizem: “Kellogg feito no socialismo”, agora sem o apóstrofe e a letra ’S’, que significava o pertencimento à família norte-americana, dona da marca em nível mundial.
Controle
Em maio de 2018, os patrões da então Kellogg’s disseram aos operários que tinham o fim de semana de folga para manutenção. Quando os trabalhadores chegaram no dia útil seguinte, eles ficaram chocados ao ver uma grande placa na fábrica, “Fechamos as operações na Venezuela”. Os patrões não os notificaram pessoalmente do fechamento ou que centenas perderiam o emprego. Os trabalhadores também descobriram que a Kellogg havia feito pouquíssimas indenizações em suas contas, que não cumpriam seus contratos sindicais.
— Não havia motivo para fechar e sair da empresa porque toda a matéria-prima era produzida na Venezuela, o milho e o açúcar etc. A empresa deixou até um ano de matéria-prima dentro da fábrica. Eles fecharam por motivos políticos e não apoiaram o governo de Maduro. Mas eles cometeram um erro: Kellogg deixou a classe trabalhadora bem treinada — disse Orlando Contreras, presidente do sindicato da fábrica.
Os trabalhadores e o sindicato começaram a se organizar para que a fábrica ficasse aberta e os eles não perdessem seus empregos.
— A participação do sindicato foi logo após o fechamento da fábrica. Chamamos todos os trabalhadores para contar o que estava acontecendo. Em seguida, entramos em contato com a Confederação dos Trabalhadores e o governo do Estado para receber apoio na definição das etapas para a reabertura da empresa. O Ministério do Trabalho ajudou os trabalhadores a contatarem os demais órgãos do governo, o Ministério Público e o órgão de Defesa do Povo, para obter o controle da empresa — acrescentou Contreras.
Produção
Um trabalhador de longa data e agora o novo presidente da fábrica, Milton Torres, complementa:
— Foi por meio do sindicato e dos trabalhadores sindicalizados que foi possível assumir a fábrica. Eles sabiam como todas as máquinas funcionavam e como fazer produtos de qualidade.
De volta a Contreras, ele afirma que “raças ao treinamento e à organização”, os trabalhadores reabriram a fábrica e a colocaram em produção”, visivelmente orgulhoso.
— Assumimos a fábrica para proteger os direitos dos trabalhadores. Fazemos cumprir as políticas alimentares em nossa terra natal de Simón Bolívar e Chávez. Agora, a empresa de Kellogg aqui é uma empresa socialista. Os princípios básicos do nosso empreendimento socialista são dignificar o trabalho da nossa classe trabalhadora, aumentar os níveis de produção, garantir que os equipamentos sejam bem mantidos, produzir produtos de boa qualidade, a um preço justo e ser uma empresa autossustentável para contribuir para o desenvolvimento econômico do país — recita.
Decisões
Os trabalhadores aumentaram a produção de dois tipos de cereais para quatro. Há duas semanas, eles também contataram o Ministério do Trabalho para visitar a fábrica e apoiar os trabalhadores com o aumento das vendas. Os trabalhadores pediram ao Ministério do Trabalho que priorize a venda do cereal ‘Kellogg Socialista’ e aumente o número de locais de venda do seu cereal, já que é todo produzido na Venezuela, ao contrário das outras marcas importadas. Com mais vendas, eles podem aumentar a produção e os salários e benefícios dos trabalhadores.
Após a aquisição, os trabalhadores passaram a ter uma voz importante na empresa, o que nunca tiveram antes.
— O novo presidente ‘Kellogg Socialista’ e o governo consultam os trabalhadores para tomar decisões importantes. Se a empresa vai bem, eles perguntam aos trabalhadores quais os benefícios que eles querem melhorar e priorizar. Atualmente, há discussões sobre a criação de um conselho coletivo com os dirigentes sindicais e a administração da fábrica — relata Contreras.
Fábrica da Ford
Nem todos ficaram felizes com este novo ‘Kellogg Socialista’, a aquisição de pessoal ou o uso do símbolo Kellogg. A Kellogg’s está atualmente processando o governo venezuelano e o novo presidente da fábrica, Milton Torres, em US $ 72 milhões, por continuar a usar o símbolo Kellogg e por usar sua propriedade.
— Se a Kellogg voltar, devolveremos a fábrica, desde que mantenham os mesmos salários e direitos dos trabalhadores — conclui Orlando.
No Brasil, a montadora Ford fechou suas unidades e deixou o país. Trabalhadores baianos tentam um caminho semelhante ao da Kellogg venezuelana.
Fonte: CdB