Recentemente (30/03) Donald Trump ligou para o presidente russo Vladimir Putin para discutir a queda dos preços do petróleo que estão causando estragos enormes na indústria de petróleo de xisto dos EUA. Os dois líderes falaram brevemente sobre a pandemia de coronavírus, mas rapidamente mudaram para a verdadeira preocupação de Trump, que é a produção de petróleo
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No último mês, a Arábia Saudita tem inundado o mercado com petróleo bruto para forçar a Rússia a concordar com cortes profundos na produção. Para seu crédito, Putin resistiu teimosamente à coerção saudita e manteve os atuais níveis de produção. Como resultado, os preços caíram para uma baixa de 18 anos, de US $ 20,09 por barril, o que está bem abaixo da taxa de equilíbrio que os “frackers” americanos precisam para sobreviver. Em menos de um mês, a indústria de petróleo de xisto, entrou em uma forte queda e disparou alarmes em Wall Street, onde analistas esperam que uma onda de inadimplência traga um nocaute aos grandes bancos de investimento. Por isso, Trump decidiu ligar para Putin. Ele quer ver se consegue convencer o presidente russo a reduzir a produção.
Vale a pena notar que Putin permaneceu estoicamente silencioso quando o governo Trump impôs sanções econômicas à Rússia por suas supostas atividades na Ucrânia. O presidente russo também não se queixou da intromissão de Washington na Síria ou de suas tentativas de bloquear os oleodutos da Rússia na Alemanha e na Bulgária (Nordstream e Southstream). Mas agora o “calo está apertando do outro lado” e os interesses comerciais dos EUA estão sendo seriamente prejudicados.
O telefonema quase não teve cobertura na mídia americana, como era de se esperar, já que não há como explicar como pode um presidente norte americano estar na desconfortável condição de estar pedindo ao “vilão” Putin um favor, seria humilhante, para dizer o mínimo.
O gesto de Trump sugere fortemente que Washington está pronto para ceder ao seu “inimigo mortal”, desde que obtenha os cortes de produção que deseja.
Só pra lembrar, e não faz muito tempo – mais precisamente em 2018 – Trump repreendeu Putin em Helsinque por elevar os preços do petróleo (US $ 85 por barril), o que Trump afirmou estar prejudicando o crescimento nos EUA. Não é de surpreender que Trump tenha errado ao apontar um culpado por esse episódio. A razão pela qual os preços subiram em 2018 foi porque o governo Trump aplicou duras sanções econômicas ao Irã e à Venezuela, o que causou um declínio imediato na produção, seguido por um forte aumento nos preços. Os EUA também apoiaram o ataque à Líbia que também contribuiu para o aumento dos preços.
Conclusão: a Rússia não foi o responsável pelos preços altos em 2018 e muito menos pelo preço baixo hoje. Em 2018, o problema foram as sanções dos EUA que sufocaram a oferta, enquanto em 2020 o problema são os sauditas. São os sauditas que aumentam a produção, não a Rússia. Isso não significa que Putin não possa ajudar a aliviar a situação, mas pra que?
De qualquer forma, é extremamente improvável que Putin concorde em reduzir a produção de petróleo em troca do levantamento de sanções econômicas. Não é isso que ele quer. O que Putin quer de Washington é algo muito mais abrangente. Ele quer que os EUA assuma compromissos em questões críticas como guerra, pandemia, proliferação nuclear e segurança global. Ele quer que os EUA cumpra as regras, cumpra o direito internacional, interrompa as sangrentas guerras de mudança de regime, respeite a soberania de outras nações e ajude as crises globais.
É isso que Putin quer, mas será que Trump está disposto pagar o “preço político” para não ter sua indústria de petróleo de xisto arruinada?
Se Trump mostrar que está disposto a ceder, Putin, sem dúvida o fará. Mas se Trump continuar com a abordagem exclusivista dos EUA, então, não haverá um acordo.