Bolsonaro vai ao Texas para vender Petrobras a norte-americanos

Cortina de fumaça para disfarçar encontro com a ExxonMobil inclui desde xingamentos a manifestantes até presença indesejada em Dallas, Texas.

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Enquanto a mídia e a opinião pública brasileiras se conflagram nas declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que chamou de ‘idiotas’ e ‘imbecis’ os manifestantes que tomaram, na véspera, as principais ruas e avenidas dos maiores centros urbanos do país — na maior manifestação pública desde aquelas que deram início ao golpe de Estado, em 2016, e à queda da presidenta Dilma Rousseff (PT) — sua visita a Dallas cumpre o objetivo principal. Bolsonaro reuniu-se, nesta quinta-feira, com o presidente da ExxonMobil, Darren Woods.

Se o ex-presidente norte-americano George W. Bush foi surpreendido com a visita do mandatário brasileiro, em viagem não oficial ao Estado norte-americano do Texas, encerrada nesta noite, esse não foi o caso de Woods. Ele tinha seu espaço na agenda garantido. O executivo da companhia petrolífera — com um faturamento equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da Irlanda — esperava o brasileiro com propostas decisivas para o petróleo que deixará, em breve, de ser nacional.

Na semana passada, Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, que o acompanhou na conversa com Woods, prometeram privatizar a estatal petrolífera brasileira, a Petrobras.

De Blasio

Bolsonaro encobriu a conversa com o presidente da ExxonMobil com uma série de declarações e atos, aparentemente, desconexos. A visita supresa a Bush e a presença indesejada na segunda maior cidade texana serviram de pano de fundo para uma escapada estratégica. Além de acertar detalhes sobre a privatização das jazidas petrolíferas brasileiras, deixou para trás um rastro de protestos, investigações policiais ao seu primogênito, senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), envolvimento com as milícias e derrotas em série no Parlamento.

Em Dallas, seu prestígio também não é lá essas coisas. Sete dos 14 vereadores locais assinaram um abaixo-assinado contra a presença de Bolsonaro na cidade. A ojeriza é tamanha que o prefeito da cidade, Mike Rawlings, recusou-se a dar as boas vindas à maior autoridade brasileira e a participar de qualquer dos eventos em que o mandatário se encontrasse.

O desprezo municipal foi comunicado ao público por Scott Goldstein, chefe do escritório de comunicação da prefeitura, na noite passada. Ele confirmou a versão divulgada por um vereador durante protesto na calçada do edifício do World Affairs Council, onde Bolsonaro receberia o prêmio de “Personalidade do Ano”, algumas horas depois.

A premiação, conferida pela Câmara de Comércio Americana-Brasileira, estava prevista para acontecer em Nova York, mas o prefeito de lá, Bill De Blasio, liderou um movimento bem-sucedido para escorraçá-la.

Transgêneros

O prefeito Rawlings disse, no entanto, que embora não concordasse com as políticas de Bolsonaro, não pretendia atuar contra sua visita.

— Eu tenho um grande respeito pelo povo brasileiro e não vou me envolver em uma disputa política pública com nenhum líder democraticamente eleito — desculpou-se.

O novo posicionamento do prefeito foi anunciado pelo único vereador gay da câmara de Dallas, Omar Narvaez, que integra o movimento contra o brasileiro na cidade do Texas. Ele fazia parte de um pequeno protesto na calçada do World Affairs Council. Durante o ato, o vereador lembrou que o Brasil é o país que mais assassina transgêneros no mundo.

Mesmo diante da execração pública, Bolsonaro seguiu acreditando que o encontro com o presidente da petroleira norte-americana valeria a pena. Os interesses bilionários nos mananciais do pré-sal levaram a ExxonMobil a participar da série de apresentações realizadas por executivos do Ministério de Minas e Energia. O principal foco concentra-se no leilão do excedente da cessão onerosa.

Agenda pública

A companhia petrolífera texana também foi a primeira empresa do setor a garantir uma agenda pública no Palácio do Planalto. Em fevereiro, a presidente da empresa no Brasil, Carla Lacerda, foi recebida pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão.

A empresa é uma das principais investidoras nos leilões de áreas exploratórias de petróleo e gás natural no país após o fim da operação única da Petrobras no pré-sal. Tem adquirido áreas exploratórias tanto no regime de concessão quanto no regime de partilha da produção, para áreas do pré-sal. Tem apostado também em ativos de exploração na Bacia de Sergipe-Alagoas, onde a Petrobras fez grandes descobertas de gás natural não associado.

Depois dela, o presidente da Shell no Brasil, André Araujo, e o CEO global da companhia, Ben van Beurden, acompanham o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em audiência com o presidente Bolsonaro. Foi a primeira vez que o presidente recebeu o CEO de uma petroleira no Planalto. A Shell, por sua vez, já esteve reunida, este ano, com o próprio Bento Albuquerque e com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Do CdB

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