Desabamentos e mortes trazem milícias, Queiroz e Bolsonaro de volta à cena

Diante do escândalo, agora revelado em sua extensão, a CPI das milícias quer ouvir o depoimento dos envolvidos.

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Queiroz, ao lado do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), é alvo de investigação policial

A queda de dois edifícios inteiros, em área controlada pela milícia na Zona Oeste do Rio de Janeiro, na manhã desta sexta-feira, traz de volta ao centro dos debates nacionais a participação do policial militar reformado Fabrício Queiroz, ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), na rede de crimes cometidos contra populações inteiras de bairros periféricos da segunda maior cidade do país. Parte dos recursos humanos e financeiros do gabinete de Bolsonaro, ainda na Assembleia Legislativa do Estado (Alerj) era gerido por Queiroz e outros funcionários ligados ao grupo criminoso.

Diante do escândalo, agora revelado em sua extensão, de uma atividade que construiu habitações para cerca de 10 mil pessoas, na comunidade do Muzema, sem qualquer fiscalização pública, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das milícias quer ouvir o depoimento dos envolvidos. O deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) disse que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seus filhos precisam responder à sociedade brasileira quanto às suas relações com os grupos paramilitares.

— Não tenha dúvida de que a família Bolsonaro, pelas suas práticas e suas defesas, deve muitas explicações e precisam repensar o seu posicionamento. Eles sempre defenderam grupo de extermínio, sempre defenderam milícia. O Bolsonaro defendeu a legalização das milícias abertamente. Isso tudo leva, evidentemente, a uma responsabilidade política muito grande de conivência com essa máfia tão violenta e ameaçadora da democracia — afirmou Freixo, em recente entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual (RBA).

Flávio Bolsonaro, quando ainda era deputado estadual, também prestou uma série de homenagens e condecorações a policiais militares envolvidos com grupos milicianos. Com base nos novos fatos, Freixo ressaltou a importância da proposta de criação de uma CPI Mista no Congresso para investigar a atuação das milícias no país.

Domínio

— Creio que seria uma bela contribuição do Congresso ao que vem acontecendo no Rio de Janeiro e em outros lugares do Brasil, porque houve uma metástase das milícias e acabou se espalhando pelo Brasil inteiro, o que é uma prática muito perigosa e um atentado contra a democracia. É o domínio territorial se transformando em domínio político-eleitoral, uma relação entre crime, polícia e política que não se separam mais em alguns lugares do Brasil — pontuou.

Fabrício Queiroz, desaparecido há mais de um mês, não encaminhou a lista dos funcionários informais que atuavam para o senador Bolsonaro. A petição da defesa do ex-PM foi entregue em 28 de fevereiro à Promotoria, com o compromisso de disponibilizar nomes e endereços dos beneficiários de pagamentos. Queiroz recolhia parte do salário dos funcionários do gabinete, segundo os advogados, para distribuir entre funcionários informais do então deputado que, diz ele, não tinha qualquer conhecimento dos atos praticados em seu nome.

Altas somas

O ex-assessor se comprometeu em entregar todas as informações sobre os “assessores de base”, como ele se referiu, mas não tem prazo definido, ainda, pela Justiça. Nesta etapa das investigações, também não é obrigado a apresentar os nomes ao Ministério Público, mas o inquérito tem seguido os prazos determinados em lei.

Até agora, o único ex-assessor de Bolsonaro a comparecer perante o escrivão do MP foi o policial militar Agostinho Moraes da Silva. Ele não confirmou a prática da “desconcentração de salários” alegada por Queiroz e disse aos promotores que repassava quase dois terços de seu vencimento como parte do financiamento de automóveis, o que lhe rendia até 18% ao mês. Transações com veículos e imóveis são uma das principais fontes de renda da milícia, segundo os investigadores.

Os depósitos em dinheiro, com altos valores e saques subsequentes chamaram a atenção da Receita Federal. A entrada do dinheiro ocorria logo após as datas de pagamentos dos servidores da Assembleia, o que levantou a suspeita da prática da “rachadinha” -devolução de parte do salário do funcionário.

Do CdB

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