Desfile da Vergonha: O dia em que 60 mil nazistas marcharam em Moscou

“Nós, abaixo-assinados, que negociamos em nome do Alto Comando alemão, declaramos a capitulação incondicional ante o Alto Comando do Exército Vermelho e ao mesmo tempo ante o Alto Comando das forças expedicionárias aliadas de todas as nossas Forças Armadas na terra, na água e no ar, assim como de todas as demais que no momento estão sob ordens alemãs”.

Assim em lacônicas palavras do locutor da Rádio do Reich anunciava na manhã de 9 de maio de 1945, o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. Aqueles que conseguiram sobreviver aos horrores da guerra respiraram aliviados.

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Apesar do 9 de maio significar um data histórica não só para os países que compunham a URSS como para o resto  do mundo, mas, é necessário recordar um episódio muito marcante, que antecedeu e muito colaborou para que o dia da rendição do exército nazista acontecesse, e que coroou  o grande triunfo da “Operação Bagration”, foi chamado de “desfile da vergonha.

O sonho dos nazistas de marchar pela capital se tornou realidade, mas não da maneira como imaginaram e até tentaram de 2 de outubro de 1941 a 7 de janeiro de 1942 de invadir Moscou. Quase 60.000 prisioneiros de guerra da Wehrmacht participaram do chamado Desfile da Vergonha nas ruas da cidade soviética.

O Início do Fim – a Operação de Bagration

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A Segunda Guerra Mundial, eclodiu no início de setembro de 1939, depois que a Alemanha invadiu a Polônia — ação que acabou forçando a entrada de outros tantos países no conflito nos meses seguintes.

A invasão nazista da União Soviética, só foi ocorrer em 1941, e de acordo com os historiadores, Stalin, quem estava no comando do Estado Socialista na época, nunca deixou de traçar paralelos com as invasões napoleônicas que se deram em solo russo em 1812.

Essa analogia, aliás, serviu de combustível para o líder soviético inflamar o espírito patriótico de “lutar ou morrer” da nação. E deu certo, ainda que ao custo de milhões de mortes e sofrimento.

Derrota e humilhação

No verão de 1944, o Exército Vermelho infligiu a derrota mais catastrófica sobre os alemães de toda a história. Como resultado da ofensiva na Bielorrússia, conhecida como Operação Bagration, as unidades da Wehrmacht e as tropas das SS perderam mais de meio milhão de soldados, entre mortos e prisioneiros, e o Centro de Grupo do Exército, uma das formações encarregadas de invadir as terras soviéticas, acabou deixando de existir.

Como resultado, os militares do Exército Vermelho conseguiram no dia 19 de agosto do mesmo ano a expulsar as tropas nazistas dos territórios da URSS e da Polônia.

“A operação militar ofensiva Bagration, uma das mais épicas não só na Grande Guerra Patriótica de 1941-1945, mas talvez em toda a história da humanidade, resultou na derrota definitiva do maior agrupamento das forças hitleristas “Centro” e na libertação dos territórios da Bielorrússia, Lituânia, e Leste da Polônia dos invasores nazistas”, afirma o embaixador russo em Portugal. E, acrescenta Mikhail L. Kamynin, “desenvolvendo o êxito da defesa de Moscou (setembro de 1941 – abril de 1942) e de Estalingrado (julho de 1942 – fevereiro de 1943), esta evidenciou já o início irreversível do fim do Terceiro Reich, cujas perdas na batalha de inimaginável envergadura se tornaram determinantes”.

Ainda nas palavras do diplomata russo:

“Acredito, porém, que o fator principal do sucesso foi muito mais o patriotismo dos soldados do Exercito Vermelho do que a sua força militar bruta”.

Levada a cabo pela URSS de 23 de junho a 19 de agosto de 1944, a operação tem uma referência muito emblemática ao nome do grande chefe militar da Rússia Piotr Bagration (1765-1812). Após o infeliz e grave ferimento na batalha de Borodino, nos arredores de Moscou, no decorrer da Guerra Patriótica de 1812 contra as tropas napoleônicas, ele dera a sua vida por uma causa justa – defender a Pátria dos agressores externos. Foi o mesmo nobre sentimento patriótico, fonte da força invencível, que uniu o povo soviético multinacional na guerra contra a peste nazista, este inimigo abominável de todos os seres humanos”.

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(Rare Historical Photos)

A violência das batalhas travadas durante a operação foi tão feroz, que ao final da ofensiva, a Alemanha contabilizou cerca de 350 mil baixas entre seus soldados — sem falar nos mais de 57 mil veículos e 2 mil tanques nazistas que acabaram destruídos. As perdas soviéticas foi aproximadamente 5 vezes menor, no que transformou a operação Bagration na ação militar mais bem-sucedida do Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial.

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(Rare Historical Photos)

Mas, além desse número imenso de mortos entre os alemães, os soviéticos capturaram cerca de 160 mil soldados nazistas.

Stalin, então, ordenou que os alemães capturados durante a operação fossem levados para Moscou para servirem de troféu à vitória soviética. No dia 17 de julho de 1944, aproximadamente 60.000 soldados alemães e seus oficiais marcharam em duas colunas pelas ruas de Moscou cercados por uma população silenciosa, apesar do ódio que a população nutria pelas atrocidades cometidas pelos nazista. Os próprios soldados do Exército Vermelho evitavam que os mais revoltados os agredissem ou atirassem objetos. A exibição pública visava alem de humilhar Hitler, convencer os governos aliados do Reich, Finlândia, Romênia e Hungria, a mudarem de lado, bem como para mostrar aos Estados Unidos e Reino Unido a força do Exército Vermelho.

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(Rare Historical Photos)

À frente da marcha, os soviéticos selecionaram os militares nazistas com as patentes mais altas,  19 generais e seis coronéis, de uniforme completo, apinhados de medalhas; seguidos por mais de 1.000 policiais e uma tropa de infantaria. Por fim, vinham os soldados nazistas vestindo as roupas com que foram capturados.

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(Rare Historical Photos)

O desfile terminou com uma grande faxina. Caminhões pipa percorreram as ruas por onde os alemães haviam marchado, limpando simbolicamente a “sujeira dos porcos nazistas” de Moscou.

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Georgij Petrusov/Sputnik

O vídeo a seguir mostra imagens do simbólico momento histórico e após a passagem dos soldados derrotados.

Veja:

 

 

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