Em carta Lula pede desculpas a Xi por ‘inaceitável agressão’ feita por Eduardo Bolsonaro

‘Lamento, entretanto, que o atual governo brasileiro não tenha feito esse gesto pelos canais diplomáticos, e por meio do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro; seu silêncio envergonha o Brasil’, declarou Lula

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Lula e Xi Jinping

Em carta enviada ao mandatário da China, Xi Jinping, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu desculpas pela “inaceitável agressão” feita ao povo chinês pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que responsabilizou o país asiático pela pandemia do coronavírus.

Na mensagem, enviada na última sexta-feira (20/03), Lula disse que a declaração dada pelo filho do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, é “ofensiva e leviana”, além de contrariar frontalmente os sentimentos de respeito e admiração dos brasileiros pela China.

‌“Quero expressar os sentimentos de uma nação, que tive a responsabilidade de presidir por dois mandatos, ao pedir desculpas ao povo e ao governo da China pelo comportamento deplorável daquele deputado”, reforça Lula.

O ex-presidente lembrou que setores expressivos da sociedade brasileira, incluindo os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, também condenaram a agressão de Eduardo Bolsonaro ao povo chinês.

“Lamento, entretanto, que o atual governo brasileiro não tenha feito esse gesto pelos canais diplomáticos, e por meio do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro. Seu silêncio envergonha o Brasil”, declarou Lula.

‌Ao encerrar a carta, o petista disse que os esforços que a China fez para combater o coronavírus são positivos. “Essa é a verdadeira imagem da China que nós aprendemos a admirar. Um país com o qual desejamos manter e aprofundar as melhores relações de amizade e cooperação, inclusive no combate à grave pandemia que também nos atinge”, concluiu.

Leia carta na íntregra:

Caro presidente Xi Jinping,

Em nome da amizade entre os povos do Brasil e da China, cultivada por sucessivos governos dos dois países ao longo de quase cinco décadas, venho repudiar a inaceitável agressão feita a seu grande país por um deputado que vem a ser filho do atual presidente da República do Brasil.

Tal atitude, ofensiva e leviana, contraria frontalmente os sentimentos de respeito e admiração do povo brasileiro pela China. Creio expressar o sentimento de uma Nação, que tive a responsabilidade de presidir por dois mandatos, ao pedir desculpas ao povo e ao governo da China pelo comportamento deplorável daquele deputado.

Como é de seu conhecimento, setores expressivos da sociedade brasileira condenaram aquela agressão, incluindo os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal do Brasil.

Lamento, entretanto, que o atual governo brasileiro não tenha feito ainda esse gesto pelos canais diplomáticos e por meio do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, que deveria ter sido o primeiro a tomar tal atitude. Seu silêncio envergonha o Brasil e comprova a estreiteza de uma visão de mundo que despreza a verdade, a Ciência, a convivência entre os povos e a própria democracia.

Lamento especialmente que esta agressão tenha ocorrido na conjuntura de um contencioso comercial entre a China e os Estados Unidos, país ao qual a política externa brasileira vem sendo submetida de maneira servil por este governo. Bolsonaro rebaixa as relações do Brasil com países amigos e se rebaixa como reles bajulador do presidente Donald Trump.

Este governo passará, sem ter estado à altura do Brasil, mas nada poderá apagar os laços de amizade e cooperação que vimos construindo desde 1974, quando o então presidente Ernesto Geisel restabeleceu as relações entre o Brasil e a República Popular da China.

Praticamente todos os presidentes brasileiros, desde então, fortaleceram nossa relação nos mais diversos campos. Recordo que, ainda em 1988, o presidente José Sarney assinou os acordos para a construção do satélite sino-brasileiro, que viria a ser lançado no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. 

Em 1994, os presidentes Itamar Franco e Jiang Zemin estabeleceram a Parceria Estratégica Brasil e China, que tem frutificado em benefício mútuo. Desde 2009 a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em meu governo, o Brasil reconheceu a China como economia de mercado e construímos juntos os BRICs, inaugurando um novo capítulo na ordem mundial. 

Recentemente, expressei minha solidariedade ao povo e ao governo da China no enfrentamento ao coronavírus. Recebo agora a notícia de que os esforços admiráveis nesse combate resultaram na interrupção, pelo segundo dia consecutivo, da transmissão do vírus em seu país. Parabéns por esta vitória e sigam lutando.

Esta é a verdadeira imagem da China que nós, brasileiros e brasileiras, aprendemos a admirar, numa convivência de mútuo respeito. Um país com o qual desejamos manter e aprofundar as melhores relações de amizade e cooperação, inclusive no combate à grave pandemia que também nos atinge.

Receba minha saudação respeitosa e fraterna, que se estende a todo o povo chinês,

Luiz Inácio Lula da Silva

Fonte: Ópera Mundi

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