Fantinato afirmou, ainda, que o programa sempre foi assessorado por conselhos técnicos e pela sociedade científica, porém, faltou um “quantitativo suficiente” para uma execução rápida de campanhas publicitárias para a população brasileira.
Ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, a enfermeira Francieli Fontana Fantinato afirmou que a ausência de vacinas e a falta de comunicação do governo federal impediu que a campanha de imunização fosse efetiva. A especialista iniciou seu depoimento na CPI da Covid, nesta quinta-feira, como investigada, mas teve seus status modificado para testemunha.
— Para um programa de vacinação ter sucesso, é necessário ter vacina e campanha de comunicação efetiva e, infelizmente, não tive nenhum dos dois — denunciou Francieli Fantinato.
Fantinato afirmou, ainda, que o programa sempre foi assessorado por conselhos técnicos e pela sociedade científica, porém, faltou um “quantitativo suficiente” para uma execução rápida de campanhas publicitárias para a população brasileira. Em seguida, a técnica em saúde acrescentou que qualquer pessoa que fale contra a imunização vai trazer dúvidas à população, por isso a necessidade de se ter uma comunicação única.
Intercambialidade
— É uma evidência que a vacinação tem resultado, mas quando é colocada em dúvida, por causa de uma politização, pode haver prejuízo para a campanha de vacinação. A politização da vacina chegou num limite que me fez caminhar pelas minhas questões pessoais — criticou.
O pedido para a audiência da servidora partiu do senador Otto Alencar (PSD-BA), que apresentou a informação de que ela teria editado nota técnica destinada aos Estados recomendando a vacinação de gestantes que tinham recebido a primeira dose da AstraZeneca com qualquer vacina que estivesse disponível, sem nenhuma comprovação de segurança ou eficiência. Conforme o parlamentar, esse procedimento, que é chamado intercambialidade, provocou mortes no Brasil. Ela foi exonerada do cargo em 30 de junho, a pedido.
O procedimento ocorreu após decisão da Anvisa, no início de maio, que suspendeu a aplicação da AstraZeneca em gestantes, após a morte de uma grávida no Rio de Janeiro, que havia recebido a primeira dose desse imunizante. A paciente apresentou quadro de trombose. A questão foi então discutida pelo comitê de especialistas que orientava o PNI.
Grávidas
O temor, segundo Francieli, era deixar “descobertas” cerca de 15 mil grávidas que já haviam recebido a primeira dose da AstraZenenca.
— Optamos, pelo cenário epidemiológico, em fazer a intercambialidade. Inicia com uma vacina, conclui com outra. Isso seria um ganho — presumiu.
Essa nova orientação foi divulgada, então, em 14 de maio. No entanto, foi retirada no dia seguinte por ordem da assessoria de comunicação do ministro. Os auxiliares de Queiroga argumentaram que era preciso discutir melhor a “intercambialidade” das doses em grávidas. Ela afirmou que foi a infectologista Luana Araújo, em especial, que orientou o ministro nessa decisão.
A funcionária pública também alegou que sofreu pressão para incluir grupos prioritários no esquema de vacinação. Essas pressões, segundo ela, trouxeram dificuldades para o desenvolvimento do plano de imunização. E também ressaltou que esses problemas não teriam ocorrido se o governo tivesse garantido maior oferta de imunizantes.
Ela disse que os critérios para o estabelecimento dos grupos prioritários foram definidos em discussão com os especialistas reunidos na Câmara Técnica Assessora. O PNI então definiu que seriam vacinados primeiramente os profissionais de saúde, seguidos por pessoas com comorbidades. Na sequência, os trabalhadores de setores essenciais.
— Sofrer pressão de todos os segmentos para entrada de grupos trouxe dificuldades para a campanha. Se tivesse vacina suficiente, não precisaria dessa fragmentação — concluiu Francieli.
Fonte: CdB