O Coiso venceu. Meu irmão é um fratricida e não está sozinho, por Armando Coelho Neto

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Do GGN

O Coiso venceu. Meu irmão é um fratricida e não está sozinho por Armando Rodrigues Coelho Neto

Ontem, mais de 57 milhões de brasileiros comemoram com fogos, carreatas e muita festa o enterro da democracia (talvez não). Depois que a OEA virou comunista, Folha de S. Paulo e Globo viraram petistas e até o roqueiro Roger Waters se converteu em comunista, não sei bem qual será o meu destino. Exílio ou paredão? Talvez não. Fui rotulado de comunista/socialista/petista, como quem define uma espécie de câncer a ser extirpado. Preciso me preocupar com isso. Não sei se necessariamente agora, mas terei que ficar de olho no meu irmão.

Estou triste, mas a reta final desse pleito não me machucou tanto quanto a disputa Dilma/Aécio. Sempre imaginei que quem tomou o país no golpe não devolveria no voto. Achei que não haveria eleição. Se houvesse, só com garantia de vitória. Uma dessas garantias seria Lula preso e escrachado, ódio fabricado potencializado contra o PT e com uma ajudazinha sem vergonha do pessoal da Farsa Jato (a lixeirinha do golpe). De última hora, vazaram uma delação fajuta do Palocci. Era pra ajudar o Picolé de Chuchu ir pro segundo turno. Não deu. Ponto fora da curva. Nos cálculos uma vitória por diferença de votos significativa para neutralizar a esquerda na resistência consentida.

Tristezas não tanto. A eleição foi farsa. No pleito Dilma/Aécio, foi tensa e a possibilidade era real de um ou outro vencerem. Até a Polícia Federal, que se diz apartidária (hoje bolsopata assumida), fazia campanha para Aécio. Mas no sufoco, Dilma derrotou Sejumoro, Dalagnol, Polícia Federal, Globo, Folha, Estadão, o lixo inominável que vai de Alexandre Frota à Regina Duarte e os espiões da CIA. Sempre que falo da CIA, lembro que ela não espionou só Dilma e Petrobrás. Espionou também o STF, fato que pode explicar a suprema covardia do Supremo Tribunal Federal, que só se manifestou com rapidez para ajudar o golpe de 2016.

Durante longos anos o STF foi conhecido como um grande balcão de negócio. Lenda ou não, fazia parte do imaginário da moral circundante. Era parte do tecido social como caixa dois em campanha, capitalismo samaritano eleitoral, financiamento do Carnaval do Rio de Janeiro, acordo entre presidiários e governos, jogo de bicho, câmbio negro, agiotagem, casas de prostituição, lavagem de dinheiro em igrejas evangélicas, corrupção no serviço público… Sonegação fiscal então (!), até o Coiso disse que sonegaria tudo o quanto pudesse. Coisas que só se tornaram pecado quando um operário de nove dedos resolveu dar comida a miseráveis.

Todos os vícios da sociedade Sejumoriana viraram vícios do PT, coisas de comunista, socialista essa gente que o Coiso promete matar ou exilar, mas que para meu irmão caçula isso não faz a menor diferença. Por burrice ou inocência, o meu irmão que chama de petista, comunista, socialista (sem saber o que é nada disso) não está nem aí quando o Coiso diz que vai metralhar essa gente (eu). Meu irmão acha que sou todos esses “istas” e votou no candidato que pode mandar me matar. É como catacrese – a coisa não é bem a coisa: dente de alho não é um dente, manga de camisa não é fruta. Então, o que o Coisopata disse fica o dito por não dito?

Quando Lula foi eleito pela primeira vez, um jornalista perguntou ao então presidente George W. Bush o que achava de um homem de esquerda vencer as eleições no Brasil. Ele respondeu: não importa o discurso com o qual um político se eleja, mas sim a forma como vai governar. Portanto, se o Coiso disse certas coisas só para se eleger, é preciso ver como irá governar. Nesse caso, o Coiso pode ser menos perigoso do que meu irmão que leva tudo ao pé da letra. Do mesmo modo, o policial que recebeu licença para matar, os pretos e quase pretos assassinados poderão ser medidos em arroba (como um quilombola qualquer, que nem pra procriar serve).

Estou triste. Mas na outra eleição foi pior. Votei sabendo que que a Farsa Jato é um lixo político mais lixo que eu pensava. Que a Polícia Federal, com raras exceções, tem mais louco que qualquer hospício. Ficou claro que o Ministério Público virou um mistério público, que nossos ministros do STF são mais sinistros do que as ameaças feitas por um militar de pijama fedendo a xixi. Ora pois. O STF molestou Dilma por falar de golpe, afrontou Lula por dizer que o STF estava acuado pela mídia. Hoje cala quando o filho do BolsoCoiso diz que para fechar aquela Casa, basta um cabo e um soldado sem jipe. Como tudo é farsa e já era esperada, certamente a derrota de ontem doeu menos.

Nas últimas três semanas, aqui no GGN, debati dois textos sobre o documentário Século do Ego (manipulação de massas) e encerrei na semana passada com um terceiro sobre marqueteiro de Donald Trump e suas ideias diabólicas a serviço do Coiso – pago com suposto caixa dois. Mas, o STF quis manter isso…

É cedo para dizer que o golpe de 2016 se consolidou ontem. A cozinha do golpe ou a engenharia social do golpe ainda não apareceu. A partir de hoje é preciso ficar atento quanto a frases como “Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”… “Vou fazer uma limpeza nunca vista”… “Ou vão pra fora ou pra cadeia”. A leitura que meu irmão caçula vai fazer disso tudo me preocupa, por não ser ele um solitário fratricida em potencial. São muitos os fratricidas prontos para matar pelos menos uns 30 mil como eu. Basta que um pastor e um marqueteiro os convençam de que somos os alvos da vez.

Para Haddad, é tarde para começar amanhã a autocrítica que deveria ter sido feito bem lá atrás. Para o Coiso fica um alerta: os votos nulos, brancos e as abstenções totalizaram 42,1 milhões de eleitores que não queriam nenhum dos candidatos. Somados aos 47 milhões de votos conferidos a Haddad, temos um total de 89,1 milhões de eleitores, muito acima dos 57,7 milhões de votos abocanhados pelo Coiso. Não sei bem a leitura que meu irmão vai fazer disso tudo. Tenho medo dele e do guardinha da esquina…

Armando Rodrigues Coelho Neto – advogado e jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

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