Anticomunismo, uma religião fundamentalista (2)

Lenin

por Andre Vitchek [*]

Agora avancemos para 2019 e 2020 em Hong Kong. Mais uma vez, o que testemunhamos é um anticomunismo ultrajante e extremista. Manifestantes fascistas marcham, destruindo edifícios públicos e atacando a Polícia, sob bandeiras dos EUA, do Reino Unido e da Alemanha, são aclamados pelos media ocidentais como “ativistas pró-democracia”. Atacam fisicamente os apoiantes de Pequim. São pagos, são glorificados. Conversei com eles em muitas ocasiões. Mostram uma total lavagem ao cérebro. Não sabem nada sobre factos. Negam os crimes cometidos pelos colonialistas britânicos e norte-americanos. Eles admiram tudo o que é ocidental e desprezam seu próprio país. O Ocidente promove-os como “revolucionários”, em todo o mundo!

Outro grupo desencadeado contra a China Comunista, são os uigures. Muitos deles juntaram-se a organizações terroristas em Idlib, Síria, Indonésia e outros lugares. Ou, mais precisamente, foram injetados lá. O motivo? Para fortalecê-los nos campos de batalha, para que um dia possam voltar à China e tentar quebrar o Comunismo, bem como a “Belt and Road Initiative”, o projeto mais internacionalista da Terra. Cobri as suas atividades na Síria, Indonésia, Turquia e outros lugares. Escrevi extensivamente sobre as atrocidades que cometeram. Mas a propaganda anticomunista é massiva e muito “profissional”. Fabrica uma “narrativa à prova de bala”. Retrata os uigures como vítimas!

Pergunte-se aos homens e mulheres comuns em Londres, Paris ou Nova York, o que sabem sobre a época de Estaline, ou a fome nos primeiros anos da URSS ou da China Comunista?

99,99% não sabem de nada. Onde essas fomes ocorreram e por quê? Mas estão absolutamente certos de que ocorreram. Sem dúvidas sobre o que quer que seja. Não têm dúvidas de que aconteceram “por causa do Comunismo”. Os ocidentais são intelectualmente obedientes, como ovelhas. A maioria deles não questiona a propaganda desencadeada pelo seu regime. Serão realmente “livres”?

A fome na União Soviética realmente ocorreu porque o jovem país revolucionário foi totalmente devastado pelas invasões ocidentais e japonesas, que tentaram vergar e saquear o país. Invasões britânicas, francesas, americanas, checas, polacas, alemãs e japonesas, para citar apenas algumas.

Pergunte-se, por exemplo, aos checos, o que sabem sobre as suas legiões que controlavam a ferrovia Transiberiana, da Europa para Vladivostok. Pilhagem, estupro e matança em massa. Eu tentei. Eu perguntei, em Praga e Pilsen. Eles pensavam que eu era um lunático. As legiões são retratadas como heróicas, nos seus livros de História. Uma narrativa à prova de bala. Não há dúvida.

E “estalinismo”? Este autor planeia escrever muito mais sobre este assunto. Mas aqui, resumidamente: que tipo de país Estaline realmente herdou? Um país completamente saqueado por invasores estrangeiros, um país devastado pela guerra civil. Um país onde as forças contra-revolucionárias foram, até recentemente, financiadas pelo Reino Unido, França, EUA e outros. Como resultado dessa brutal guerra desencadeada do exterior, bandos de criminosos percorreram os vastos campos e cidades.

Desde o início, os comunistas russos queriam paz, irmandade de nações e desenvolvimento pacífico para seu povo. Escrevi em 2017, no meu livro Great October Socialist Revolution. Impact on the World and Birth of Internationalism .

“Os revolucionários queriam acabar com todas as guerras imediatamente. Os soldados russos deixaram as suas trincheiras e abraçaram seus inimigos. “Somos todos irmãos!”, gritaram. “Fomos obrigados a lutar uns contra os outros por monarcas cruéis, padres e homens de negócios. Deveríamos combater inimigos reais, não uns aos outros! Proletariado do mundo, uni-vos!” Mas os oficiais e comandantes ocidentais estavam determinados: forçaram seus homens de volta às trincheiras, acusando-os de traição, empurrando-os para os campos de batalha.

“Mais significativamente, as inúmeras invasões estrangeiras foram esmagadoras quer para as principais cidades russas e como para as áreas rurais. Como sempre, ao longo dos séculos anteriores, os europeus nunca pensaram duas vezes antes de colocarem as suas botas militares em solo russo. De certa forma, a Rússia foi tratada e percebida como uma nação “bárbara” que poderia ser atacada, colonizada e saqueada à vontade e sem muita justificação, não muito diferente das inúmeras nações infelizes em todo o mundo: localizadas na América do Sul, Médio Oriente, África, Ásia e Oceania”.

“Muitos russos pareciam brancos, europeus, mas para os ocidentais nunca eram “brancos o suficiente”, nunca realmente faziam parte da cultura dos conquistadores e saqueadores. A Rússia sempre teve sua própria alma, sua maneira de pensar e sentir, sua maneira distinta de agir e reagir”.

No meu livro, revisitei as táticas de subversão do imperialismo ocidental e do anticomunismo militante:

“A estratégia da subversão imperialista ocidental é essencialmente muito simples: identificar todos os pontos fortes e fracos do país que se tenta liquidar e tentar compreender sua ideologia. Estudar e aprender tudo sobre a sua liderança progressista: os seus planos e o que a revolução está a fazer pelo povo: como dar-lhes liberdade, direitos iguais, maior expectativa de vida, altos padrões de educação, assistência médica, habitação, infraestruturas, artes e, em geral, uma qualidade de vida decente. Em seguida, atacar onde mais dói: intervenções diretas, sabotagem, ataques terroristas ou patrocínio de grupos extremistas e mesmo fundamentalistas religiosos, a fim de espalhar o medo e a insegurança para retardar o processo de mudança social e crescimento econômico.

“Aplicar golpes tão fortes que, a certa altura, o sistema democrático revolucionário terá que reagir, seja para proteger o seu povo, as suas realizações e até as próprias vidas. Onde quer que o Ocidente tente destruir um país socialista, seja na Nicarágua ou no Afeganistão nos anos 80, tem como alvo hospitais e escolas, destruindo as grandes realizações sociais do governo, espalhando a desesperança entre a população. Então, desencadeiam-se ataques ainda mais fortes, obrigando o governo a reagir. Imediatamente declara-se: “Vejam, esta é a verdadeira face do socialismo e do comunismo! Querem uma revolução? Tudo bem: o que se obtém é isto: opressão, julgamentos políticos, gulags, falta de liberdade e mesmo algumas execuções brutais!”

“As armas da desinformação e propaganda negativa são amplamente usadas, para que a revolução num país progressista, cruelmente sujeito ao terrorismo, nunca tenha hipóteses de influenciar o resto do mundo- E mesmo o país começar a sofrer demasiada pressão. …

… Estas táticas hediondas do Ocidente feriram profundamente a União Soviética antes da Segunda Guerra Mundial, mas falharam em destruir o país.”

A fome chinesa ocorreu em parte porque durante a ocupação japonesa, o Exército Imperial interrompeu o fornecimento da cadeia alimentar, bem como o sistema agrícola, que havia sido formado e desenvolvido ao longo de milhares de anos. O Japão estava interessado apenas numa coisa: alimentar as suas tropas que ocupavam grande parte da Ásia.

Nos dois casos, a propaganda ocidental fez as pessoas acreditarem que a verdadeira causa da perda de vidas na Rússia e na China era o comunismo! A lavagem cerebral foi tão bem-sucedida que, mesmo na Rússia e na China, milhões de pessoas foram totalmente doutrinadas por essas incontáveis e repetidas mentiras vindas do Ocidente.

Mas pergunte-se em Londres, se as pessoas sabem alguma coisa sobre o facto de que, sob a ocupação britânica da Índia, dezenas de milhões de pessoas morreram de fome; vitimas da fome provocada por Londres , por muitas razões, uma delas a tentativa de diminuir a população. Mais de 50 milhões de indianos, cumulativamente, morreram nessas fomes, entre 1769 e 1943, na Índia administrada pelos britânicos.

Como resultado, devemos proibir o sistema político britânico? Estou convencido de que deveríamos! Mas isso geralmente não é o que as pessoas do mundo, incluindo as vítimas da barbárie colonialista britânica, exigem.

Voltando ao público britânico ou francês. O que sabem sobre o seu passado e até sobre o seu presente neocolonialista? Sabem apenas o que tiveram ordem para acreditar. Em resumo: não sabem nada. Zero. Apenas contos de fadas. Mas estão convencidos de estar bem informados e que têm o direito de ensinar o mundo inteiro.

Eles não sabem absolutamente nada sobre a URSS e a China. Não têm ideia da razão pela qual a Coreia do Norte e Cuba são continuamente demonizados (como dissemos, os dois, de mãos dadas, libertaram a África do colonialismo ocidental).

Vivi e trabalhei por toda a África, durante anos, fiz filmes e escrevi incontáveis ensaios. O envolvimento cubano e norte-coreano, enormemente positivo, internacionalista e indubitavelmente Comunista, na Namíbia e Angola, do Egito à Maurícia, foi muito bem documentado. Mas diga-o num café parisiense ou em um bar de Londres, e os queixos caem. Olhares em branco, vazios.

Até mesmo a “esquerda anticomunista”, composta por anarco-sindicalistas e trotskistas (na realidade, principalmente produtos pseudo-revolucionários dos EUA e britânicos), não sabe nada, ou não quer saber nada, sobre o verdadeiro Comunismo revolucionário.

Em 23 de abril de 2020, o jornal Brasil de Fato citou o vice-ministro venezuelano Carlos Ron:

“É muito interessante a cultura norte-americana acreditar num “destino revelado”, pensar que têm uma missão messiânica. Acreditam que a sua missão é acabar com o comunismo na América Latina, e para isso têm de derrubar a Venezuela, Cuba e tudo o que é vermelho, porque tudo o que é vermelho é comunista.”

Na Indonésia, um Estado religioso completamente fracassado, miserável e deprimente é baseado em dogmas anticomunistas. Ninguém entende claramente por que são anticomunistas, mas quanto mais ignoram o assunto, mais agressivamente agem; banindo todos os conceitos e léxico Comunistas, construindo “museus” anticomunistas e produzindo filmes anticomunistas. Depois de matar milhões de Comunistas em nome do Ocidente, o anticomunismo tornou-se a essência da sua existência. No passado, baniram as línguas chinesa e russa. Tudo apenas para silenciar o passado, quando o presidente Sukarno e o PKI (Partido Comunista da Indonésia), antes do golpe de 1965 apoiado pelos EUA, estavam construindo uma grande nação progressista, socialista e não alinhada.

De facto, em grande parte do sudeste da Ásia, talvez a parte mais grotescamente turbo-capitalista do mundo, o Comunismo foi banido ou pelo menos demonizado. Eis o resultado: nações confusas, consumistas, religiosas e sombrias. O Vietnam Comunista é uma estrela brilhante, mas nunca é retratado como tal, definitivamente não é no exterior.

Vamos celebrar o 150º aniversário de Vladimir Ilyich Lenin! Vamos celebrá-lo revisitando a História e o presente.

O sistema político mais brutal é o imperialismo ocidental e o colonialismo. Já matou centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Este facto deve ser repetidamente divulgado.

O objetivo da propaganda ocidental sempre foi igualar o Comunismo ao fascismo, os dois sistemas mais antagónicos da História do mundo. Foi o sistema Comunista soviético, que quebrou o nazismo em pedaços, salvando o mundo, a um custo enorme de aproximadamente 25 milhões de vidas humanas.

Somente o imperialismo ocidental pode ser comparado ao nazismo alemão. Os dois são feitos da mesma massa.

Para mim, para muitos de nós, o Comunismo significa a luta perpétua contra o intervencionismo ocidental, o colonialismo. Nesse momento terrível da história da humanidade, é importante entender claramente essa realidade.

Se o Comunismo fosse derrotado, seria o fim da luta pela liberdade. Somente o sistema Comunista poderoso, centralizado e ideologicamente consistente pode combater e libertar a raça humana das correntes colonialistas, do capitalismo selvagem e de uma existência vazia, niilista.

Os propagandistas dizem mentiras insanas, que o Comunismo é ultrapassado e chato. Não se acredite neles: o Comunismo é o sistema, ainda jovem, mais esperançoso e otimista do mundo. E, ao contrário do imperialismo e do capitalismo, o Comunismo está em constante evolução. Não na Europa ou na América do Norte, mas no resto do mundo.

Basta olhar para o Ocidente e suas colónias. Veja-se a miséria e a privação trazidas à humanidade pelo regime ditatorial opressivo ocidental.

Feliz aniversário, camarada Lenine! A luta continua!

[*] Filósofo, romancista, cineasta e jornalista de investigação, tendo coberto guerras e conflitos em dezenas de países. É o criador de Vltchek’s World in Word and Images . Alguns dos seus livros: China’s Belt and Road Initiative: Connecting Countries Saving Millions of Lives . Escreve regularmente para “New Eastern Outlook” .

Fonte: journal-neo.org/.

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