O presidente Jovenel Moïse, do Haiti, afirma que sobreviveu a uma tentativa de golpe no domingo. Principais figuras da oposição dizem que não houve tentativa de golpe – e que Moïse não é mais presidente
A prolongada crise política do Haiti está chegando ao ápice com a questão de saber se o mandato de Moïse terminou no domingo ou terminará em 7 de fevereiro de 2022. Este é apenas o último momento em um ciclo de eleições atrasadas, frustração pública e desgaste legitimidade política na empobrecida nação caribenha.
O mentor e predecessor de Moïse, Michel Martelly, deixou o cargo em fevereiro de 2016 sem um sucessor eleito depois que os resultados de uma eleição de 2015 foram anulados. Moïse, empresário sem experiência política anterior, foi eleito em novembro de 2016 e assumiu o cargo em fevereiro de 2017.
A oposição argumenta que, atrasos eleitorais à parte, o relógio do atual mandato presidencial de cinco anos começou em 7 de fevereiro de 2016.
Moïse diz que tudo começou quando ele assumiu o cargo – posição apoiada pela Organização dos Estados Americanos, pela ONU e, a partir desta sexta-feira, pelo Departamento de Estado dos EUA.
O mandatário apareceu no Facebook Live no domingo para anunciar a prisão de 23 pessoas, incluindo um juiz da Suprema Corte, a quem ele acusou de conspirar para derrubá-lo e matá-lo.
A oposição esperava, de fato, expulsar Moïse, mas rejeita a ideia de que pretendia fazê-lo com violência. Se as afirmações de Moïse foram mais do que teatro político, não está claro, pelo menos em Washington.
“A situação continua obscura e aguardamos os resultados da investigação policial”, disse um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.
Moïse governa por decreto desde fevereiro de 2020, após não conseguir realizar as eleições parlamentares programadas para 2019.
Agora, ele diz que realizará um referendo constitucional em abril, seguido de eleições legislativas e presidenciais no final deste ano – uma linha do tempo que Georges Fauriol, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, considera “suspeitamente curta”.
“Existem questões de saúde, existem questões de segurança e a máquina da democracia é inexistente para todos os efeitos e propósitos”, disse Fauriol, citando listas eleitorais incompletas e a falta de uma comissão eleitoral independente.
Mesmo se as eleições forem realizadas, a legitimidade dos resultados provavelmente será contestada imediatamente, acrescenta.
O domingo também marcou o aniversário do ditador “Baby Doc” Duvalier que fugiu de Port-Au-Prince em 1986, após a restauração da democracia.
Em sua página do Facebook, Moïse declarou: “Eu não sou um ditador.” O fato de que tal declaração precisava ser feita só ressalta a fragilidade da democracia haitiana 35 anos depois.
Fonte: Axios